Amor e uma pitada de erotismo dançante – três poemas de Emanuel Sebastião

Virgem na madrugada

Desacorrenta a fera
e insaciável fome lhe morde
o estômago do desejo
o dia é uma camisa de força
corpo é convento e mulher é freira
quando a lua é relógio e a noite
se abre em asas de cetim, ali já não estou
então as hábeis mãos se saciam
num movimento geométrico
às vezes rectangular às vezes triangular
tacteando a via-láctea clitoriana
e corpo é templo profanado e mulher
é sacerdotisa pagã
o convento é derrubado
cai refastelado na miséria da carne
a única religião é o prazer

Eivado o amor

Eivado o amor
quebram-se as asas do medo. estilhaçadas
no arpão. o amor é uma espingarda
tom destoado na pintura
consagrada de Da Vinci
E dali se conhece irreverência
peripécias seculares
teísmo nauseabundo
pela vida efervescente
eivado o amor
A vida acontece esquelética esperança
escancarada nas frestas
duma solidão qualquer
dum ser qualquer
algures pelos cronos

Mística dança

Mística dança em plena batalha
nas horas vagas de prazer
desperta o dragão adormecido
por umas tais pirâmides invertidas
louca (in)vestida de noite
desorienta o ponteiro
secular mente domina
o coração sacristão
atormentado por tais visões
vultos de um corpo sedento
no corredor da morte
《Reconheço-o》
Entre torres siameses brancas
e um triângulo vencido
são calamidades e imprecações
dominando o corpo e a noite
Não saírei vencedor desta investida