As ´Yabarás´ podem ser doentes – análise à peça do colectivo de artes Pedro Belgio

E se Donana não for uma ´yabará´, porque assim o quer?

Enquanto víamos uma mulher debater-se com seus impulsos sexuais incontroláveis, durante a estreia da peça “A ninfomaníaca” do Colectivo de Artes Pedro Belgio, surgiu do público um grito que tentava concluir, em um só termo, toda a acção da mulher: ´yabará´(mulher fácil, prostituta).

Com direcção de Perisvaldo di Sara, segue a vida da mulher de um comandante que, não estando onde este presumia que estivesse, se envolvia com outros homens para se ver saciada. A mulher segue sem culpa entre múltiplos episódios, testemunhado por outros, incluindo a cunhada, mas é o cônjuge que, relutante, nada percebe, ora porque assim não quis ora porque era ludibriado.

Vemos no desfiar das cenas um relato impessoal ao envolver-se mais a atitude das pessoas em relação a um transtorno despercebido que uma tentativa de autoexplicação/autoavaliação. A partir daí, surgiu então do público esta imersão que, por um lado, espelha o modo compulsivo como se popularizou o termo ´yabará´, num recente caso “polémico” das redes sociais. Alguns personagens (da peça) são referências aos três ´personagens´ (reais) deste caso. Carlos, o marido, então como Charles; Zezinha, a cunhada, como o tio Zua e ninfomaníaca Titi como Donana.

E quando é assunto impessoal, quem tira proveito são os zémaníacos, aquele grupo de vizinhos que, depois de tudo julgar, tudo tenta para participar; pois é um Mabiala que, quando descoberto, se transforma em Bia, um homossexual, ou, ainda, o excêntrico Zé Manuel que em tudo vê “biolo” (negócios rápidos) e que se apodera de qualquer oportunidade.

Deixando referências obvias, mesmo no estado de “polémicas de internet” e não em arte, que, no entanto, não estiveram tão distanciados no texto escrito pelo mentor do colectivo Pedro Belgio, ressalva-se a necessidade de arte a abstrair-se do real, e usá-lo como mote de verossimilhança para dar novas percepções sobre o real do qual surgiu. Pois, ainda é forte o tabu e os preconceitos quanto a questões ligadas à sexualidade o

u psiquismo.


SOBRE A PEÇA

 

Peça: A nifomaníaca
Autor: Pedro Belgio
Direcção: Perisvaldo di Sara
Duração: 60+ minutos
Gênero: Comédia
Estréia: 11 de março de 2017