A bidimensionalidade do jovem escritor no panorama da literatura angola

Na presente comunicação, o calcanhar de Aquiles consiste na Bidimensionalidade do Jovem Escritor no Panorama da Literatura Angolana. A princípio, a referida dimensão estende-se aos tecidos dicotómicos da idade biológica e da idade literária. A primeira diz respeito à data de nascimento. A segunda ao tempo cronológico na literatura. Mais adiante, veremos o valor semântico da expressão em causa.

Por conseguinte, a expressão “jovem escritor”, na esteira da literatura angolana, poderá apresentar várias implicaturas, dentre as quais: os conflitos inter-geracionais. Muito destes conflitos no imaginário literário angolano deve-se, à partida, pela marginalização da análise e da crítica fundamentada em detrimento da opinião estereotipada. Por exemplo, temos conhecimento de que, na entrega de um prémio de um concurso literário, foi questionado a idade de uma das premiadas. Facto que demonstra, categoricamente, o nível de disfuncionalidade literária de certos segmentos sociais e o tipo de sociedade literária que se está a construir. Assim, questionamos: num ângulo retórico, o que define um jovem escritor? A idade biológica ou a literária? Se a juventude compreende até aos trinta e cinco anos, então, quem estiver, na literatura, com cinquenta anos de idade, mas que tenha começado a escrever há quinze anos, como podemos considerá-lo? Passa-se a falsa ideia de que todo escritor da geração de 80 tenha abandonado a categoria de jovem escritor. Pois que, a idade biológica não é, necessariamente, a literária. Entendemos que a catalogação da qualidade literária não se consubstancia, necessariamente, no factor idade de forma isolada. A mesma até poderá ser um elemento primário, mas não o essencial, isto é, não define a qualidade literária. Se assim o fosse, todos os escritores que estão na casa dos 36 em adiante teriam produzido obras de carácter antropológico. Quando falamos em primariedade, referimo-nos aos processos de formação do sujeito criador. Quanto ao estágio perceptivo e conceptivo do objecto literário é gradual. Portanto, a idade não pode ser entendida como uma condicionante para se averiguar a qualidade literária ou a sua cosmo-produção.

Acreditamos existir uma inter-dependência entre a idade na perspectiva genérica e o grupo de pertença no aperfeiçoamento psicomotor do sujeito criador. Por diferentes sujeitos estruturantes comporem o esqueleto dinâmico e renovável da literatura angolana, tanto ao nível conceptual como ao nível da produção artística, é importante que autoclismo cognitivo dos variados sujeitos funcione com certa moderação, sob pena de auto-ridicularização. Pois que, a questão do jovem escritor poderá ter também implicaturas depreciativas na perspectiva sociolinguística. Deve-se ter em atenção ao valor semântico da expressão “jovem escritor” no enquadramento sociológico. Parte-se do princípio de que, para alguns segmentos da sociedade literária, o jovem é tido como o que não lê, a nódoa do progresso literário, o imediatista. Inclusive, formulações distorcidas quando se junta à qualidade ao plágio. Não se compreende a razão de se pensar que o jovem escritor premiado recorreu ao plágio. Por isso, lançamos um desafio aos demais escritores e estudiosos, a fim de provarem, com sustentabilidade e não através de discursos de carvão, a existência de plágio nesta ou naquela produção literária qualitativa. Porque o plágio não se circunscreve, simplesmente, ao jovem escritor. Tal rotulagem gera um sentimento de discórdia contínua e permanente.

Ora bem, na cosmovisão do sujeito social que se foi construindo nas últimas duas décadas sobre o jovem escritor, remete-se esse jovem quase sempre na esfera de que não sabe fazer. Julga-se que esta construção advém de resultados heterogéneos, como o processo sociocultural, o do quadro existencial dos conflitos externos e internos que os distintos sujeitos tendem a ultrapassar no percurso da auto-afirmação ou por terem apresentado uma literatura frustrada. Já na esteira linguística, filtra-se a ideia da hierarquização adjectivada no campo literário.

Portanto, a bidimensionalidade do jovem escritor no panorama da literatura angolana ainda é um tanto quanto antagónica por abarcar a idade literária e a biológica. Assim sendo, desaconselha-se o pugilismo falatório. Pois, se nos atermos a um paralelismo entre a idade biológica e a literária dos escritores da geração de 80 e os subsequentes, pode-se presumir, hipoteticamente, que poucos da geração de 80 sejam escritores adultos. Uma outra quezília que junta a esta dicotomia é ausência de estudos, por enquanto, que definam as diferentes gerações da literatura angolana, que possam aferir, debater abertamente sem a cegueira dogmática e os preceitos laboratoriais, sobre os assuntos relacionados à literatura. Quem é o jovem escritor no panorama da literatura angolana? O diálogo apresentado é uma tentativa de relançar debates cerrados sobre o assunto desenvolvido em causa.

Como sempre, não terminamos, ficamos por aqui.