Bons ventos para o humor nacional

O povo angolano sempre foi caracterizado como um povo de sorriso fácil. E não sem motivos, pois não faltam manifestações culturais onde os elementos do humor são evidenciados mesmo quando as circunstâncias sociais não são tão inspiradoras.

Por exemplo, o fenómeno cultural denominado “estiga”, caracterizado como um duelo em que os intervenientes troçam-se caricaturando elementos físicos e psicológicos, parece ignorar a realidade do meio circundante dos nossos musseques onde é habitualmente palco desse evento, a menos que esta realidade sirva para promover mais risos.

Não obstante a isso, o nosso universo do humor mais profissional nunca representou, em quantidade, a nossa inclinação para fazer rir, dado o nosso contexto sociológico.

Um ou outro humorista, grupo de humoristas se destaca como referências de uma geração. Esta realidade, felizmente, parece estar a conhecer o seu fim.

Hoje, Angola vive uma brisa de uma era que se advinha mais aberta e acolhedora à liberdade de expressão. Essa condição de certeza contribuiu e contribuirá muito para a expansão das mais variadas manifestações artísticas anexadas ao humor. Aliado a isso, temos uma abertura e pluralidade dos meios de comunicação social que facilitam muito o processo.

Como consequência, o panorama do humor nacional nunca esteve tão diversificado a nível de abordagens dos humoristas e a nível de quantidade. Há nomes que vêm se destacando e até exportando o nome de Angola no exterior, como o caso dos Tuneza, mas há trabalhos de extrema relevância de notáveis talentos que, aos olhos da maioria do público, podem ser considerados como emergentes.

É de destacar, por exemplo, o projecto Goz’A’qui, que congrega humoristas de abordagens diferentes, periodicamente, e que se desdobra em programas no Youtube de entrevistas, com pitadas de humor e sátiras sustentadas pelas notícias sobre política, economia e sociedade que fazem manchetes.

O Goz’A’Qui traz um humor que abrange a reflexão e a propagação de informação dos acontecimentos políticos e sociais mais relevantes e tem como mentor o humorista Tiago Costa ou, simplesmente, TC.

Ladilson Manuel é um humorista vinculado ao projecto citado, mas que também vem se destacando com shows, em nome próprio, por meio do seu canal do Youtube e por outras redes sociais, bem como por via de shows regulares onde se apresenta como principal figura de cartaz.

Ladilson se caracteriza por um humor que privilegia o gozo com personalidade e eventos sociais que estejam relacionadas à vida de celebridades.

Cotingo, um humorista que tem como estilo a caracterização caricaturada dos traços culturais dos povos do sul, normalmente sustenta o seu show na base de anedotas e danças.

Renata Torres, também associada ao projecto Goz’A’Qui, apresenta-se como uma humorista que satiriza o quotidiano e as efemérides sociais.

Os Tunezas, para encerrar, são actualmente o expoente máximo do nosso humor. Caracterizando-se por uma obra que se estende nas mais variadas plataformas como TV, palcos nacionais e internacionais e alguma presença nas redes sociais, principalmente encabeçada por um dos elementos do grupo denominado Gilmário Vemba, que é notavelmente uma referência firmada no humor nacional.

Felizmente não se pode esgotar o trabalho em torno do humor que vem se firmando em Angola numa só edição, muito menos numa só matéria, dada a variedade de propostas. Mas, uma certeza é inquestionável: se não vivemos os melhores momentos dentro da história do humor nacional, estamos muito próximos disso.