“Estamos a criar uma sociedade sem memória”, Entrevista com o artista plástico, Hamilton Francisco Babu

Vivendo em Portugal, Hamilton Francisco Babu, foi um dos estudantes de desenho industrial no antigo Centro de Formação e Tecnologia Manauto 2, em Luanda. Apresentou, recentemente, no país a exposicão Mu Seke, para o PopUp MashUp, com Pedro Pires, no Espaço Luanda Arte. Fomos ter uma conversa com o artista que falou-nos sobre o Mempria e Identidade, seu projecto focado na restauração da memória colectiva e a identidade africana, de seus trabalhos em próximas exposições e do envolvimento com o Projecto Museus no Centr me ir a Portugal, na altura foi a onda que tínhamos de emigrar, todo jovem na minha época tinha o desejo de ir a Europa não tendo muita alternativa em Angola. Como a arte sempre foi o meu desejo comecei  aproximar-me do assunto. Aconteceu que depois tive de me afastar dela, sendo jovem e num país estrangeiro, foi uma passagem onde tinha que se afirmar pessoalmente, e mais tarde fui voltando aos poucos as artes.

Como está sua relação com Angola agora com mais uma exposição aqui no país?

Agora sinto-me melhor em relação as primeiras vindas ao país, talvez porque agora conheço melhor como que as coisas funcionam, como as administrações estão, se foi muito tempo sem ter contacto com a forma como as coisas estão organizadas por aqui. Mas o que me faz sentir mal é a mentalidade das pessoas, ainda ficou pior que o ano que saí do país, ainda em fase de guerra, havia naquela época o recolher obrigatório, pensávamos diferentes. Não havia muitas escolas e universidades mas o ensino era relativamente bom. Agora, há pessoas que pensam que o seu conhecimento, a extensão da sua pessoa é os bens materiais ou a aparência que tem.

 

Com esse percurso, que foi marcado pelo autodidactismo, como desenvolveu seu estilo? Queinfluências teve?

Quando aprendemos sozinhos normalmente fazendo as coisas praticando elas. O estilo  vem de prática e com ideias criativas surgidas com o tempo. Para influências, Robert Rauschenberg foi uma grande fonte e o resto também vem da convivência com outros artistas.

A sua obra e os seus temas têm sido marcados por um olhar sobre a africanidade. Em que medida trabalha esse tema enquadrado no cenário da arte contemporânea?

Memória e identidade é o projecto que desenvolvi e que está em evolução constante a medida que a investigação avança. Tem a ver com as influências que os europeus tiveram com África e as minhas influências como africano vivendo na Europa, e como sabe que falar de África, é como falar de toda humanidade, afinal foi em África onde tudo começou e inclusive o bem-estar social que muitos de nós vamos a procura. Enquadro o trabalho puxando das nossa tradição cultural desde a escrita, arquitetura, e até política social dos reinos que existiam, é por isso que vou dizendo: do tribal ao contemporâneo.

O projecto Memoria e Identidade encontra-se parado? Quando teremos ele cá?

Está em decurso, vou agora preparar uma exposição, um projecto Museu de Arqueologia na Figueira da Foz. Ainda não há uma perspectiva de vir cá com o Memória e Identidade. Mas com a exposição Frágil trouxe uma parte do projecto trabalhada nela.

 

Esteve em 2015 pelo JAANGO, 2016 com a exposição individual Frágil, este ano para o PopUp MashUP, isto é sinónimo de que voltaremos a ter mais exposições suas no país?

Ainda é premeditado; ao sair daqui começo a trabalhar para uma exposição em julho mencionada a pouco, no Museu de Arqueologia na Figueira da Foz.  Depois entro num ciclo de reuniões e preparação para o Circulo de Artes Plástica de Coimbra, um dos principais organismo da vanguarda artística portuguesa. Será para 2018, mas o trabalho é antecedente. Fiquei, no entanto, com o convite do Dominick Maia-Tanner, do Espaço Luanda Arte, para uma exposição comercial mesmo no espaço do ELA e aí aproveitava também visitar novamente a familia.

Já agora, como é expor num país em que as artes ainda é um caminho instável?

Não diria ao certo instavél, a arte no país está a descarrilar. Já se fez muita coisa e já se sabe muita coisa, mas devia haver mais diversidade e abertura para que mais pessoa pudesse ler e saber sobre arte. Foi uma coisa boa quando soube do surgimento da revista Palavra&Arte, falando de arte. Agora, falo de abertura e diversidade porque já se criou quase de tudo na arte, o que nós fazemos agora é recriar e representar um conceito e uma nova linguagem.

Nós angolanos somos bastante criativos e temos de explorar esse aspecto, a cultura deve funcionar mais. Os europeus metem a cultura a frente da economia, Paris, por exemplo, não é a cidade de luz ou amorosa pela sua arquitectura, sim por ser o centro artístico mundial, passou por lá bastante intelectuais e nós ainda estamos a pensar nisso, ainda ficamos a pensar em ter uma boa aparencia, um bom carro.  As joias passam de moda, quanto mais antigo perdem valor, com a arte é o contrário.

Dandalunda em exibição na Galeria Artinzo em Lisboa

O desafio desta exposição levou-lhe a diferentes lugares para trabalhar no tema musseques, o que mais pôde extrair desta exploração?

Podiamos fazer mais ainda, tivemos muito mais coisas do trabalho de campo que foi feito. Pedro Pires e eu pensavamos sempre em acrescentar muito mais elementos a exposição. Ficou-me a vida dos roboteiros, a linguagem das pessoas, a forma de pensar, as brincadeiras das crianças. Lembro-me de ver umas crianças numa brincadeira antiga e ainda cheguei a corrijir a brinacdeira, elas perguntavam como sabia.

Regressando a exposição Frágil que apresentou em 2016. Sendo sua primeira exposição individual no país, que tipo de interpretação se pode fazer ou de que tipo de fragilidade aquelas obras verdadeiramente retratam?

As obras trazem em discussão a fragilidade da cultura africana. Nossa fragilidade cultural não é só em Angola. Ainda não vivi meio século mas já imagino o que nossos antepassados viram e o que os nossos poderão ver. Estamos a viver em constante fragilidade, e isso é um alerta que o projecto Memoria e Identidade traz.

 

O oposto dessa fragilidade como é que seria?

O que interessa é olhar para trás e vermos, por exemplo, como é que o Reino do Congo vivia, como é que eram organizados. Porque muito do que temos estado a procura [do ocidente] aqui já se fazia: o ordenamento do território. O Congo foi o primeiro reino a implementar a metrologia.

Esse olhar para trás deve ser para pensarmos no que nos foi negados pelo sistema colonial. Estamos em numa era da globalização. Não sei como o angolano pode entender a globalização; ela é uma forma de sermos colonizadas mas o opressor não tem rosto. Não precisamos, por exemlpo, de uma ganecia de rating que venha nos dizer que Luanda tem dinheiro ou não, se é uma cidade qualificada. Essa qualidficação é só no dinheiro, porque não olham nos aspectos mais importante, a dificuldade aqui ainda está pesente, seja com a saude, nas crianças, nas mulheres, pensar em como ela pode liderar, como uma já liderou.

No dia em que a publicação Luanda fez os 50 anos, o mestre Luandino Vieira em fim apareceu! falamos do seu livro e de memória e identidade na faculdade da matemâtica.

Temos, de alguma maneira, já uma pluralidade de estilos e artistas no mercado nacional. E há uma certa atracção do ocidente pelo mercado nacional. Sente-se mais próximo desse olhar ocidental por fazer seu trabalho quase integralmente no estrangeiro?

Sim, sinto a atração do estrangeiro que estão a gosta, simplesmente porque lá fora a arte africana está na moda. Ou seja nos proximos 20 e 30 anos arte africana vai estar muito no auge porque já se canosu de muita coisa que vem do ocidente. Mas a coisa africana não é nova, é antes deles. Particularmente não poderia estudar uma pessoa como Picasso, porque veio buscar coisa nossa e levou aos europeus, poderia esudar um Modrian ou um Rembrandt, o modo como eles viviam, estes não sairiam da moda tal como a nossa arte classica.

Para si, qual é o lugar da arte na actual situação económica e social do país?

A arte está sempre a frente. De todos pensamentos políticos que há, a arte já pensou 10 anos a frente, porque são alertas que nós vamos dando as pessoas, porque as sociedades são agressivas não há passividade, quem ficou para trás ficou, E a arte tem seu papel a frente,d« da economia, politica, nesse trio ela estás a frente. A cultura deve estar a frente e não ser visto como um desperdício para investimento. Estamos a criar uma sociedade sem memória, sem ideias. Não valorizamos os arquivos sobre a historia.