“Ingombota” na voz de Toty Sa’Med

A Ilha de Luanda, que já foi, em tempos mais esquecidos, inspiração para belas canções, recebeu, no passado dia 13 de Dezembro, Toty Sa’Med e o seu Ep “Ingombota”, primeira obra discográfica. Entre alguns espaços que a nossa Ilha ostenta, o restaurante Art’z é que teve a responsabilidade de receber um dos novos cantores da nossa praça, mas, talvez, não tivesse ideia da tamanha responsabilidade, pois o local foi pequeno demais para o número de interessados pelo “Ingombota”.

De qualquer forma, o pequeno concerto aconteceu, na qual Toty, proprietário de um canto fácil e de dedos mágicos na viola, apresentou, ao vivo, as seis músicas do Ep, das quais cinco do cancioneiro angolano, no caso, “Kizua ki ngi fua” (Artur Nunes), “meu amor da rua onze” (Aires almeida Santos/Pedro Rodrigues), “Mona ki ngi xiça” (Bonga), “Hoola hoop” (tradicional angolano) e “Namoro” (Viriato de Cruz/Ruy Mingas). “Kaluanda”, primeira do Ep, é a única música inédita desta obra, e de sua autoria.

Ainda hoje, Talatona será “Ingombota” por algumas horas, por intermédio do restaurante Zodabar (Para mais informações, consulte a nossa agenda cultural) que, seguindo os passos do Art’z, vai se responsabilizar por receber o, também, instrumentista, arranjador e produtor, Toty.

Em entrevista, Toty respondeu a algumas perguntas da Palavra&Arte.

Palavra&Arte: Porque deu o título de Ingombota ao seu Ep? Qual é o significado disso para si?

Toty Sa’Med.: Ingombota é uma palavra de origem bantu que tem como significado lugar ou refúgio para os que são perseguidos; é por isso que dei o nome de “Ingombota”, porque, no fundo, é um refúgio meu, e porque também foi o bairro onde eu nasci, na altura, município, no Maculusso; então faz todo sentido também dar ao Ep, porque é o início de uma viagem – Ingombota foi o início da viagem da minha vida – então, como disse, faz todo sentido dar o nome “Ingombota”, como início da minha vida artística, da minha vida musical.

Ingombota, Ep de Toty Sa´med

 Disse que a música é um refúgio para si, é isso?

Exactamente, a música é um refúgio para mim.

P&A: Disse no palco que vai lançar o próximo Ep. Para quando é que podemos esperar por um álbum? Será que se sente preparado para isso? Pretende lançar nos próximos anos?

Eu quero lançar o álbum dentro de um ano e pouco e os Ep’s vão saindo antes disso; então, daqui a um ano e meio, dois, no máximo, estamos a ver álbum do Toty.

Os Ep’s… de quantos estamos a falar?

Toty S.: Dois, no máximo três.

 O que é que, exactamente, pretende transmitir quando escolhe músicas como de Rui Mingas… eu vi que existe apenas uma música sua, que é Kaluanda, e todas as outras são versões de artistas angolanos consagrados. O que pretende transmitir quando escolhe estes artistas, como Bonga, Artur Nunes?

O que pretendo transmitir é um sentido de angolanidade e orgulho, também, das nossas músicas e do nosso cancioneiro. E quando as pessoas ouvirem o Ep, que sintam um toque mais actualizado ou mais pessoal, por ser também de uma geração mais jovem; então é isso que eu tento transmitir, um orgulho aos meus contemporâneos, principalmente da minha geração, pelo nosso cancioneiro, que contém lindas canções. Portanto, é este resgate do cancioneiro.

Porque só agora decidiu tirar o Ep “Ingombota”?

Porque só agora é que me senti preparado para dar este passo; antes não tinha tanta aptidão para lidar com certas coisas que implicam não só música, porque lançar um álbum não implica só a parte musical, implica outras questões que ainda não estava preparado para assumir. Então, agora este é o momento mais certo.

 Nos próximos Ep’s, teremos temas do Toty ou continuaremos a ver versões?

Provavelmente… ainda não sei, ainda não parei para pensar no próximo Ep, mas, provavelmente, teremos duas ou três músicas minhas.

  Para fechar com chave de ouro. Como artista e angolano, o que o move?

O que me move é a minha paixão pela música; como músico, é a minha forma de estar na vida que, em tudo, transpira música; e como angolano, é essa paixão pela música angolana, essa paixão pela cultura angolana, pelas nossas línguas, nossos ritmos e nossas raízes.