Livro, Árvore, Filho (não necessariamente nesta ordem)

As aulas de História resumem-se sempre no mesmo:  guerras, pessoas mortas; civilizações erradicadas, pessoas morta; mudanças de rumo da sociedade, pessoas morta. Não importa o caminho, sempre vai dar em pessoas mortas. Sou sempre obrigado a pensar em pessoas mortas. Pessoas mortas não deviam complicar a vida dos vivos.

Pergunto-me, porque tenho eu de saber como os sumérios, egípcios, imperadores chineses, romanos, gregos e Czares Russos viveram? Como se reproduziam ou o que comiam? Porque tanta obsessão pelo passado? Não é certo que não devemos apegar-nos ao passado?

A História devia ser uma disciplina opcional, porque, a mim, pouco importa se a Cleópatra casou-se com o Marco António, ou com o César – quando quiser saber espreito no Google – já que, no presente, a Cleo, minha vizinha do lado, nem sequer olha pra mim. Porque não ensinarem, ao invés de História, uma disciplina chamada “Actualidade”? Seria bem mais fácil lidar com as datas e lembrar os nomes das celebridades e presidentes (ou não, no caso dos presidentes). Provavelmente nas provas de Actualidade sairiam questões do gênero: como abriu a bolsa de valores? Qual é o álbum número um na billboard? Qual é o smartphone mais vendido no mundo? Qual aplicação mais vendida na App Store? Como Rihana saiu de casa hoje? E tantas outras, ou seja, coisas que verdadeiramente interessassem as pessoas nos dias actuais.

Falando em tecnologias, eu sinto-me mais privilegiado do que qualquer imperador, rei, faraó, sultão ou Czar, pois, embora eles tenham tido incontáveis riquezas, nenhum deles pôde desfrutar do prazer de jogar o Subway Surf, da alegria de ser chamado no Whatsapp, dos “gostos” e comentários no Facebook, sem esquecer dos selfies no Instagram.

Após uma análise como essa, sinto uma profunda tristeza, não pelas personagens da história, pois continuo a não me interessar pelas suas vidas aborrecidas, sinto-me mal, pois, tal como as Cleópatras, os Césares e companhia passaram  à história, eu também passarei. Eu e toda a minha realidade, um dia, serão apenas história, e já começou a acontecer com a Antártida que, dia após dia, vai derretendo como se de um sorvete exposto ao sol se tratasse, e que, em consequência, resultará no aumento do nível do mar, que resultará numa enchente a escala mundial, que vai resultar na minha morte, … ceus! Vou passar à história, mas não farei parte dela! Afinal quem sou eu? Meu nome não será lembrado como o da Cleópatra, Césares e outros! Preciso fazer algo para mudar esse quadro! Eureka! Já sei! Por que não perguntar ao oráculo mais sábio dos tempos modernos – Google – o que fazer para ser lembrado para sempre?

Ao ligar o motor de busca, vejo surgirem inúmeras respostas, mas é difícil encontrar alguma convincente. O Google, ás vezes, é surpreendente, a pessoa procura por um artigo relacionado à equação do segundo grau, e ele sugere uma receita de bolo de chocolate. É impressionante, mas, ainda assim, continua a ser o oráculo mais sábio dos tempos modernos. Depois de tanto revirar nesse baú mágico, encontro um artigo que dizia que todos os homens (e mulheres) devem, pelo menos, escrever um livro, plantar uma árvore e fazer um filho – não necessariamente nessa ordem –, para que o seu legado continue noutras gerações. O filho para fazer parte da geração futura, o livro para passar os conhecimentos, e a árvore para preservar a referida geração, para que esta possa passar os nossos e os seus conhecimentos às outras gerações vindouras, e, só assim, poderemos ser os futuros Césares, Cleópatras ou outros.