Foto de @stefan.helder

Luanda, arte na arquitectura

“A arquitectura é música congelada” (Arthur Schopenhauer). Raras frases conseguirão transmitir melhor a essência da arquitetura. Nossas moradias, quando pensadas sob perspectiva artística, garantem-nos maior bem-estar, pois estão sintonizadas com a natureza e os padrões geométricos que nos energizam. Não é em vão que verificamos, na idade média, os templos sagrados e outros monumentos das principais cidades daquela época, elaboradas sob a mão de grandes artistas.

Hoje, ainda temos um eco bem vivente dessas construções, e, até de construções muito mais antigas, como o caso do antigo Egipto, por exemplo.

Por isso, reflectir sobre a questão arquitetónica nacional, em particular, a luandense é de grande pertinência.

Contextualizando

Luanda, que costuma a servir de amostra de Angola, apesar de não ter sido palco de grandes confrontos da guerra civil, foi um ponto de abrigo emergencial da população refugiada, permitindo, assim, a existência de muitas zonas suburbanas sem planificação arquitetónica que as dignifique. Unindo-se a esse facto, há, também, o chamariz económico que até hoje atrai populações que procuram melhores condições de vida. A par disso, é visível o crescimento urbano planificado. Projectos como o Nova Vida, Kilamba, os Condomínios de Luanda Sul, a Nova Marginal, entre outros, são índices que apontam para essa direção.

Entende-se, então, que perceber qual é a direção arquitectónica que estamos a tomar é de extrema importância, porque nos consciencializa do futuro que iremos colher.

É nessa senda que trazemos uma arquitecta para nos dar um olhar mais panorâmico da situação: a Suely Soares.

Nome:  Suely Marisa Escórcio Enoque Soares

Formação: Licenciada em Arquitectura com especialidade em gestão de projectos arquitectónicos, e com o mestrado em Arquitectura Hospitalar (construção de unidades sanitárias

Hobbie: Escrita, leitura, actividades sociais

 Quando se fala na arquitetura de Luanda, o que lhe passa pela cabeça?

Suely Soares: Desenvolvimento. Uma arquitectura a se encontrar. A nossa arquitectura, aqui, na capital, assim como quase tudo que afecta os angolanos, segue um único parâmetro: moda. E a moda no ramo da arquitectura e tecnologias é o moderno. Mas até o moderno, no que toca a leis da construção, tem regras, regras que, muitas das quais, não vemos a serem sequer lembradas. É importante criar, mas também é importante que a criação funcione interior e exteriormente. Precisamos satisfazer a demanda, mas de forma artisticamente uniforme, funcional, planificada e acima de tudo futurística.

 Temos um país jovem, com necessidades habitacionais urgente. Como pensa que se conseguirá conciliar isso com um plano arquitectónico que vai orgulhar os nossos netos?

A herança digna para os nossos filhos e netos senta na sustentabilidade. Qualquer plano habitacional, doravante, deve ser sustentável com energia renovável através de recursos naturais pelos quais não pagamos, como o sol ou o vento. Sermos capazes de obter água consumível através da chuva e outras fontes naturais; ver a possibilidade de cada um ter uma pequena horta onde tirar os legumes primordiais para a culinária diária. A comunidade deve ser educada e engajada a cuidar, preservar a comuna que lhes foi dada, e passar estes ensinamentos às gerações vindouras; isto, sim, fará dos filhos e netos orgulhosos da comuna/bairro onde nascerem e crescerem.

 

 Onde é que o nosso arquitecto, a nível individual, entra nesse processo de fazer da nossa cidade uma tela de arte?

No meu ponto de vista, todo o arquitecto tem a obrigação de contribuir como pode para a arte não morrer; e se a nossa arma é a Arquitectura, então usemo-la. Dentro da Arquitectura nós temos o paisagismo, as esculturas e a tecnologia arquitectónica que nos ajuda a tornar cada vez mais os nossos projectos numa peça de arte. Eu, particularmente, procuro estar rodeada de todo tipo de artistas, porque acredito, profundamente, que a arte não vive sem a arte. E toda arte nos inspira a fazer bem a nossa arte, a implementá-la da forma mais criativa possível.

Vê, em Luanda, uma direção positiva nas construções de patrimónios culturais como estátuas e etc.?

Infelizmente, não. Vejo, em Luanda, uma urgência em construir, mas pouca preocupação com esculturas e, até mesmo, com o paisagismo em si. E é triste, porque são as estátuas e os parques que nos identificam com o ambiente em que nos encontramos, que purificam o ar que respiramos e que o tornam o ambiente mais agradável e propício para a nossa vivência diária. É incrível como a Arquitectura, saúde e bem-estar estão 100% interligados.

 Como se poderia melhorar isso?

  Acredito que, nos novos planos de requalificação da cidade capital, já consta muito do que venho falando ao longo desta pequena entrevista. É necessário mais arborização, mais espaços livres para a criação de parques para diferentes práticas benéficas a saúde da população em geral.

Foto de @stefan.helder

  Qual é a sua impressão a respeito da relação entre o turismo e a arquitectura luandense?

Não há muita, no meu ponto de vista. Tirando a nossa marginal, o que realmente atrai o turismo são paisagens naturais, como as nossas ilhas (ilha de Luanda e Mussulo), a vida nocturna que a cidade oferece, entre outras coisas. A nossa cidade é de certa forma acolhedora, mas, diria que por um todo, não muito pela arquitectura que a mesma apresenta.

 A quem se atribui a responsabilidade da construção de uma cidade melhor e qual é a posição do cidadão comum nisso?

 Esta responsabilidade é atribuída, principalmente, ao governo, ao ministério tutelar desta função. Isso também para garantir que sejam seguidos os parâmetros necessários para a obtenção de edifícios seguros, bairros uniformes e infraestruturas ideais para a vida salutar do cidadão. Ao cidadão cabe cuidar, valorizar e quando em posição de construir, procurar a orientação de alguém com formação e conhecimento necessário para que se cumpram as leis de construção desde quando o projecto ainda está no papel, neste caso um arquitecto.

Quais são os caminhos que se devem trilhar para ter acesso ao seu trabalho?

Eu tenho um Atelier de Arquitectura, chama-se “Salvgess Projectos Lda”. Temos arquitectos e projectistas especializados na projeção de todo tipo de edifícios, desde residências a edifícios comerciais. Pode entrar em contacto connosco por telefone: 942019532/923411999, pelo Instagram: salvgess_architects_design, pela nossa página no facebook: Salvgess Projectos Lda.

Por último, quero agradecer a oportunidade que me foi dada pela revista, para abordar, embora que de forma abreviada, sobre temas tão pertinentes e por vezes pouco focados na nossa sociedade. Espero que haja mais iniciativas similares por parte de outros meios da comunicação. Muita sorte e muitas bênçãos para vocês e, desde já, Feliz natal.