Novos tempos para pescaria



A mãe Lwanda acabou de trazer dois peixes, daqueles mesmo bem grossos, aqui em casa para o nosso jantar.

Em conversas, com a mana Sul e a mana Norte, ficamos a saber que o Paulo e o Viana  conseguiram pescar bons peixes ontem. Ao entrarem na comuna, estavam muito cansados, mas satisfeitos por terem posto na rede os peixes tão desejados lá da Quissama. Eles apresentaram na mãe Lwanda, e na avó Ngola o jantar da noite com orgulho e a esperança de dias melhores.  Afirmaram que o rio Kwanza foi muito generoso por ter escutado os lamentos das mães angolanas que passaram o fim de semana lá na Mamã Muxima,  a orar bué contra a maldição que têm vivido ao longo desses anos de crise económica e moral na nossa aldeia.

Paulo e Viana são filhos que escolheram a profissão de pescadores para honrar os avós e pais que morreram no rio das águas profundas. Eles e os colegas de profissão por muito tempo trabalharam apertados e exerceram a profissão sem muitos recursos. Na aldeia poucos acreditaram nos seus talentos, uns diziam frontalmente que era impossível confiar neles já que por quase 38 chuvas nunca conseguiram pescar as quantidades que respondessem à demanda das famílias; limitavam-se a pescar apenas os peixinhos desnutridos, aqueles que o antigo Soba permitia.

Paulo, Viana, e os outros colegas de profissão, tinham acumulado muita sabedoria das águas, e só estavam a espera da primeira oportunidade para mostrar às suas comunidades que foram iluminados e abençoados pelo novo Soba grande. Nesses últimos meses receberam materiais sofisticados para a pesca, com toda mestria que os incrédulos desconheciam, enfrentaram as águas frias, profundas e turbulentas sem medo. Resultado: trouxeram peixes graúdos, daqueles mesmo bem grossos e, em consequência, esperança para as suas famílias; prometeram que nos próximos dias haverá mais pescaria em abundância. Juraram perante a comunidade que vão honrar a vida de todos aqueles que morrem de fome e dos outros que morreram na desgraça permitida pelo antigo Soba.