O Rangel e o kuduro

Rangel, outrora município, é um dos distritos que constitui a área urbana da província de Luanda, capital de Angola. O Rangel tem 6,2 km² e cerca de 260 mil habitantes. Está limitado a Oeste pelo município da Ingombota, a Norte pelo município do Sambizanga, a Este pelo município do Cazenga e a Sul pelos municípios de Kilamba Kiaxi e Luanda. É constituído pelas comunas da Terra Nova, Rangel, Marçal e Precol.

O distrito deu e dá cartas no mundo da arte, principalmente na dança e na música. Nomes como Mateus Pelé do Zangado e Joana Perna Mbuco elevaram-no à categoria de um dos mais conhecidos do país. Esta fama reflecte-se ainda mais graças aos kuduristas que nele habitam.

O estilo kuduro surgiu na década de 90. Mas só no princípio do século XXI é que o distrito foi ganhando os primeiros cantores de renome. Nomes como Noite e Dia, Puto Prata, Puto Lilas, Saborosa e Fofandó colocaram o distrito como uma paragem obrigatória para o estilo kuduro. A rivalidade entre Sambizanga e Rangel, que nasceu logo a seguir, foi, também, um dos marcos para a ascensão do Rangel. Fofandó, conhecida como a Rainha do kuduro, infelizmente, não conseguiu manter-se na ribalta ao longo dos anos, embora tenha voltado com o sucesso “ndi dó” recentemente. Enquanto isso, Noite Dia carregou a bandeira do Rangel neste estilo, e, hoje, é a kudurista com mais sucesso.

Esta capacidade de promover kuduristas fez do Rangel o lugar mais procurado por aqueles que almejassem sucesso no estilo. Como exemplo vivo, temos a polémica Jéssica Pitbull, oriunda do Sambizanga, que encontrou o sucesso no Rangel. Por trás de todo o sucesso que o Rangel granjeou no estilo Kuduro, há o nome dos conceituados DJ´s De Vitor, Ditox, Znobia, etc.

Quanto ao kuduro no masculino, dispensamos as apresentações. Puto Lilas, o mais consagrado kudurista do Rangel, também conhecido como “A defesa do Rangel”, é quem tem uma das maiores rivalidades contra o Nagrelha, que é o melhor kudurista do Sambizanga.

Com tantas figuras de renome, sem esquecer Karliteira, Reeducador, Própria Lixa, Nacobeta, Dada 2, etc., o Ran¬gel ainda tem uma nova estrela. BADI ORGUITA. Ela surpreendeu todos com o seu sucesso “Vou te Acarcar”. Sendo já adulta, não só chamou atenção com a sua música, como também pela sua forma de vestir e actuar, que, de certa forma, mostram que não dá ouvidos para os comentários negativos.

Como disse Domingas Monte: “Num primeiro olhar, pensa-se «essa tia» é uma «madó» (termo angolano para designar, pessoas que querem mostrar-se, aparecer). Porém, depois de algumas visualizações, compreende-se que se está diante de uma revolucionária, inconformista natural, que aparece com as suas vestes (saia comprida e lenço) de senhora angolana, sem embarcar em estravagâncias, o que é habitual em cantoras mais novas. Assim, a alcunha de “mãe de todas as kuduristas” assenta-lhe na perfeição. Neste aspecto, Orguita revoluciona e promove uma nova forma de olhar para o kuduro. Não como um estilo musical marginal, mas constitutivo das nossas gentes e que move massas, da qual todos nós fazemos parte: crianças, jovens e adultos. Quantos mais velhos dançam e cantam kuduro nas sentadas e nos seus quartos? Muitos! Alguns também já alimentaram o sonho de ser kudurista, mas nunca tiveram a coragem de Orguita. Ela é uma ARTISTA.” Com este “acarque”, o Rangel demostra, mais uma vez, que, se quiseres ter sucesso, basta saberes como chegar à capital do kuduro, o Rangel.

Artigo publicado originalmente no site: Mwelo Weto