Só letra são do prazer – três poemas de Telema

Sílabas soltas

Na sílaba solta dos meus lábios
um travessão de beijos
tensos, soletram ausências
na aglutinação das minhas insónias

Na sílaba presa nos teus lábios
meus temores e receios
avenida sinuosa de mistérios
no peito dos teus arranha-céus

Divisão silábica da boca
curvas que entornam palavras loucas
não são falas das minhas íntimas comichões

A verdade: páginas húmidas entre abertas
que minha serpente mordeu secreta
na linha do equador das tuas emoções

Overdose do prazer

Passo a passo com a vertical idade passo
desliza a língua, metal híbrido libidinoso
na órbita inflamada dos lábios voluptuosos
desenho do poeta no umbigo da caneta

Passo a passo, o corpo desfolhado entrego
ao vício da ejaculação fértil. Trago
na nudez do papel vermelho, o rasgo
da louca mente que inspira o poeta

Passo a passo a ponta do lápis risca, cai
no aquário desértico de segredos sinuosos
banho da chuva morna, descontrai

Kamasutra, corpos mistos, sem espaço
poesia com o sémen que uni versos
multiplicação da genética, gozo, traço… traço

Lago do prazer

Ela cala e no lago dos seus lábios
flutua a casca da minha nudez
fala com o silêncio da timidez
de mil dedos cogitando seios

Ela grita feito praça ao amanhecer
e na pureza insana do querer
chora com a dor emotiva do prazer
onde ofereço o desejo do meu ser

Inspira, respira e deixa-se penetrar
como raios de sol em tecto de palha
eu! No céu corpo nu vens a flutuar

E sinto no sabor o desabotoar da alma
neste amar tão louco que se desfolha
e deixa nossos corpos em constante chama