Na sílaba solta dos meus lábios
um travessão de beijos
tensos, soletram ausências
na aglutinação das minhas insónias
Na sílaba presa nos teus lábios
meus temores e receios
avenida sinuosa de mistérios
no peito dos teus arranha-céus
Mas ela cantava, se a guitarra ou ela, mas cantava, suspiros que me envolviam em abraços que dispensavam o corpo; voz e ouvido acasalavam-se e comentários viam-se para o mundo exterior, livre por cada nota, do Dó ao Dó com o Fá a servir-se como ponte da receptividade do alheio à minha volta. À nossa volta.
Depois da publicação do AMOR MENDIGO em 1997 e um ensaio em 2003 sobre Agostinho Neto, o libertador e homem de cultura que todos conhecemos –ou pelo menos deviamos conhecer! – , eis que o poeta «da vaca que arrasta o tempo», fazendo jus à sua (re)conhecida pena, reapareçeu, passada que foi uma década e meia de reflexão e labor oficinal com o CORPO MOLHADO DE PRAZER, livro editado pela União dos Escritores Angolanos na colecção «Guaches da Vida».
Gerilson Israel apresenta-nos uma composição musical que, do ponto de vista dos «Estudos Culturais», deve ser analisada dentro de um contexto específico, sob pena de se relegar à mais extrema pobreza uma obra que, como qualquer outra, possui, seguramente, alguns pontos fortes. Trata-se de uma música que reflecte o contexto actual em que o «capitalismo» converte até o que há de mais puro e sublime em mero objecto comercial, em que o apego pelas coisas se constitui como um estilo de vida. Como é visível, vivemos em estado de urgência. A pressa é uma das principais características do nosso tempo. Os cantores privilegiam composições que facilmente ficam nos ouvidos do consumidor. Tanto a música como o autor são criações sociais, construções humanas de um período cada vez mais incaracterístico em termos de valor, frutos da «cultura de massas» que procura, a todo o instante, consumidor activo.
Habitamos num país com grande povo de poucos leitores, facto que impõe dificuldades culturais para um livro bem-vindo, sem recusar...
”Toda vida humana é um sonho” – Fernando Pessoa No verão de 2006, enquanto viajava pela Europa, tive de fazer...