Os muros da Serra da Leba é, antes de tudo, a natureza querer nos submeter o conteúdo, o sublime, a beleza a forma e o sentido aos ritmos. Como dizia o outro: quem tem olhos vê, e acrescenta-se: quem tem alma há-de escalar um muro. No nosso caso, há-de ultrapassar os muros através da longa estrada que, se nos apossarmos das metáforas, é ressonância das paisagens.
O cenário, “intimamente intimista”, não daria para muita gente, e, infelizmente, muita gente precisaria de uma boa terapia musical no último dia laboral da semana, excepcionalmente na quinta-feira. A parte frontal da sala que, claramente, seria manejada pela anfitriã estava composta por uma mesa na qual dava para ver um PC e mais alguns instrumentos, dois, se tanto. Havia três microfones destacados, prevendo, além de ela, mais dois acompanhantes. Mas o que se viu foi o contrário. Ou seja, Maria-Gracia Latedjou, ao contrário do que se esperava, dominou todo o cenário, sozinha, com a simplicidade de uma experimentada artista de longos anos. Além dos dois instrumentos denotáveis sobre a mesa, demo-nos conta do violino que foi o instrumento base ou principal durante o concerto, tocado com e sem arco, embora, no seu EP inaugural, “o baile dos sentidos”, o violino não tenha conhecido o arco como tradicionalmente é.
Entrou às pressas no Terraço. Do outro lado, o clima suspeitava a chuva. O vento, assaltando as coisas menos leve....
Com base algumas afinidades descritas pela citação anterior, para o estilo Kuduro, na sua estrutura formal, o primeiro sinal de semelhança que temos é a rima, pois, a busca de rima, no Kuduro é constante (muitas vezes, sem unidade das ideias anunciadas nos vários versos), dando-lhe, assim, o ritmo e a musicalidade que lhe são necessárias. Na tentativa da busca do ritmo, a maioria dos kuduristas opta pelo mesmo tipo de rimas, a emparelhada. A rima também justifica a construção moderna do Kuduro, porque, segundo Chatelain, na música tradicional angolana o recurso a rimas é raro. «Na poesia existem poucos sinais de rima, mas muitos de aliteração, ritmo e paralelismo». Além disso, a própria noção que alguns kuduristas têm em organizar as letras em verso e estas, por sua vez, em estrofes, como se pode ver em Bruno M., apresenta-nos uma visão de proximidade entre as duas artes. Dessarte, isto é indicativo de que há uma aproximação entre o Kuduro e a arte literária.