Depois de mijar o célebre mundo da plutocracia do nada, que salvou o seu musseque da praga do homem branco, Kamatumbo não mais parou. O cotio, mijava lindos mundos. Eram mesmo lindos. Havia, inclusive, dias em que mijava mais de um mundo. A sua destreza no mijar de mundos maculava alegria nos rostos dos seus. No seu musseque, os sorrisos passaram a ser uma marca registada. Orgulhosos.
Bocas elogiam, bocas sorriem, rostos com máculas de alegria, quando deu por si, os vizinhos já haviam cambiado o seu epíteto de Mijador de Mundos, que lhe haviam atribuído anteriormente, para Pipito de Ouro. Até as crianças do musseque chamavam-no por este nome.
Com excepção da sua mãe, todos chamavam-no pelo novo apelido. Em função do crescimento do seu lindo acervo de mundos mijados e dos constantes elogios que recebia dos seus, o nome Pipito de Ouro rompeu as fronteiras do musseque. Espraiou-se por toda Luanda. Tornou-se afamado.
A sua fama foi responsável pelo convite especial que recebera de uma empresa que conseguia colocar mundos mijados no céu. Nesse dia, durante a noite, Pipito de Ouro ensaiou como nunca fizera antes. Como resultado, mijou o lindo mundo da “Cacografia Fúnebre”. Neste lindo mundo, apareceu uma necrópole onde uma peonagem levava a calpa de um homem à tumba.
De repente, no meio da peonagem, um homem confundiu o defunto, que se chamava Júlio, com o mês de Julho. O mesmo aumentou o seu choro. Gritava ruidosamente. Chorava porque pensava nos seus bolsos que perderiam um salário com a morte do mês de Julho. Ficaria mais pobre.
Quando a empresa colocou este mundo mijado pelo Pipito de Ouro no céu, foi um sucesso total. Sorrisos e alegria foram maculados em milhares de rostos. Os elogios que recebeu foram incontáveis. O mundo real, o não mijado por ele, conheceu-o. Tornou-se muito mais afamado. Celebrizou-se pelo mundo real.
Esta celebrização mundial fez-lhe receber um novo convite. Viera de um dos reis mais importantes do país. Pipito de Ouro, ao recebê-lo, maculou grande alegria no rosto. Os músculos que fechavam a sua boca pareciam ter perdido vigor. Esta não se fechava mais. Ria com a boca esbugalhada de canto a canto. Conhecia o quão importante era aquele rei para o país. Era o rei da comunicação.
Em casa, de chofre, sua mãe fez os músculos da sua boca ganharem o vigor que pareciam ter perdido. Todo o sorriso desapareceu do seu rosto num repente. Pregou no rosto grande espanto. Pela primeira vez, sua mãe colocou na boca o seu novo cognome.
– Ó Pipito de Ouro, você é burro ou quê?! Vão te cortar o pipito. Não vai!! – colérica, gritou-lhe.
Com a chegada dos irmãos de Pipito de Ouro, um caloroso debate instalou-se. Todos diziam que o célebre mijador de mundos devia aceitar o convite do rei, pois este o homenagearia por causa da riqueza dos seus mundos. Até à hora que se deitaram, não houve consenso.
No dia seguinte, a mãe surpreendeu todos. Arranjou uma cueca de ferro para o filho. Este sorriu como um louco. Contudo, aceitou-a. Durante três dias, Pipito de Ouro não mijou mudos. Treinava o andamento com a cueca de ferro. No introito era difícil, mas depois de muito treinar, finalmente, conseguiu se adaptar à cueca de ferro. Andava de forma natural, como se não a tivesse vestido.
No dia da homenagem, Pipito de Ouro vestiu uma fatiota de cor amarela berrante. Ao sair, o musseque todo lhe desejou boa ventura. – Vai bem, nosso Pipito de Ouro!! – gritaram-lhe. Com o rosto rasgado por um enorme sorriso, partiu. Rumou a Talatona, onde ficava o palácio do rei da comunicação. A seguir, todos voltaram as suas casas. Prenderam os olhos na televisão. Sabiam que uma homenagem do rei da comunicação, obviamente, passaria em directo pela televisão.
No palácio de Talatona, a festa de homenagem ao Pipito de Ouro era grandiosa. O rei convidara ilustres figuras do país. O homenageado alegrara-se. Houve muita dança e muita música. O rei convidara muitos cantores, inclusive aquele que era um dos melhores cantores do país naquele momento. Depois de um discurso em que o homenageado foi laureado pelos mundos que mijava, às 17:45, o rei entregou-lhe uma estatueta dourada. Ao baterem as palmas, os ilustres convidados do rei fizeram grande barulho. O homem da fatiota amarela desconseguia de fechar a boca. Sorria. Sabia que estava a ser visto pelos seus através da televisão.
Chegado no seu musseque, Pipito de Ouro achou-se triste. O rei não deixara aquela homenagem passar pela televisão. Porém, na sua casa, seus irmãos o receberam em apoteose. A garrafa de champanhe, com o seu barulho de abertura, entrou também na recepção festiva. Sua mãe estava com o rosto ledo. O pipito de ouro do seu filho não fora roubado pelo rei da comunicação.
– Vamos orar para agradecer a Deus porque a homenagem no palácio de Talatona correra muito bem. – pediu a mãe.
“…Muito obrigado, meu Deus, porque tudo aconteceu como te pedi. Até a televisão não apresentou nada. Assim, os bandidos não vão lhe roubar o seu pipito de ouro. Muito obrigada. Ámen!!!” – terminou a sua mãe.
– Ámen!!! – responderam os demais.
Abertos os olhos, Pipito de Ouro, franziu a testa. Descobrira que, afinal, o rei da comunicação não permitira a filmagem da sua homenagem porque fora um pedido que a sua mãe havia feito ao Criador do mundo real.
“Afinal, mãe tem muito poder!” – pensou.
A seguir, dirigiu-se ao seu quarto. Despiu a fatiota amarela e a cueca de ferro. Depois de regressar à sala, foi contando tudo o que acontecera na sua homenagem. Falou das ilustres figuras convidadas pelo rei da comunicação e dos cantores que animaram o evento.
De repente, parou. Enrugou o rosto a seguir. Com uma voz baixa disse:
– Afastem-se. Vou mijar um novo mundo…
Todos se afastaram lampeiros. Prenderam-lhe o olhar de espanto.
– É mentira. Estou a brincar. Hoje não é dia de mijar mundos. – disse com um sorriso nos lábios. Os outros sorriram de verdade. E o pequeno convívio prosseguiu…