A mesma cueca de há mais de três dias, desde que nascemos

Quando veio ao mundo, ao mundo dos vivos, saíra de um sofrimento, de uma luta, no mundo monovivente, que era o útero de sua mãe, Bantu. Transgrediu os nove meses de gestação, permanecendo por aquelas águas, um pouco mais de cinco anos. Ngola Hebu lutara contra a rejeição daqueles que queriam fazer de sua mãe, melhor, que faziam de dona Bantu, prostituta. Oferecia-se ao homem mau não por dinheiro, mas pela sobrevivência dela e do filho que carregara no seu ventre. Esta também lutou contra a intenção de lhe forçarem um aborto, preferindo mesmo que o seu corpo sofresse, que lhe roubassem a sua cultura, juntamente com a sua língua. Fizeram-lhe a acreditar que tudo em que acreditava era mito e que tinha de adorar um deus que se vestia de branco e que se alimentava com o medo dos homens a fim de temê-lo.

Depois de aprender a conviver com os seus opressores, depois de já ter dominado a língua destes, começou a construir a sua independência. Usou tudo aquilo que aprendeu com os violadores contra eles mesmos. Começou por denunciar aos quatro cantos da terra por meio da arte, que os violadores viam, inicialmente, como inútil, todo o seu sofrimento.

Enquanto isso, Ngola Hebu, voltava a dar sinais de vida, querendo sair. E sua mãe ia criando, agora com mais motivação, condições para o nascimento do seu filho.

Numa noite, às quatro horas da manhã, começou ela à luta contra a escravatura do seu corpo e da sua terra, na qual se plantou de forma mais promíscua, todo tipo de produto, enriquecendo-se de produtos prazerosos. Nesta noite, com uma faca, armadilhou a residência de seus opressores, enquanto estes dormiam, e às 11 horas deste mesmo dia, quando se levantavam, foram caindo nas armadilhas bem-feitas pela Bantu. E nascia Ngola. Saía de um mundo de sofrimento como feto para outro de luz da esperança, de vida melhor e independente das paredes uterínicas de sua mãe.

E já no dia seguinte, ele corria, estranhando, com a cueca que ganhara de sua mãe. Guardava-lhe bem o pénis. Minutos depois na cueca, decidiu que tinha de trocar por uma nova. Mas para ganhá-la, deitou fora a primeira, queimando-a, dizendo que danificou e que já não dava para vestir e que a nova era mais confortável. E assim conseguiu. Usou, usou, sujou-a. Mesmo pudendo trocar por outra, não trocou, apenas tirou, lavou, mentindo ser nova e foi fazendo isso, durante mais três dias. Neste período todo, a cueca rasgou, mas ele soube esconder, cosendo-a. Todos aqueles que notassem os arranjos na cueca, procuravam avisá-lo do perigo, mas eram vistos como inimigos e acabavam afastados. A caminho do quarto dia com a mesma cueca, vai cheirando mal. Não tinha como.

Agora a luta é do pénis que já não aguentava aquela cueca. Para reivindicar, não ficava erecto quando Ngola precisasse, não mijava, mesmo que Ngola tivesse vontade. Mas a caminho do quarto dia, ele tem conseguido, usando drogas, fazer com que o pénis fique erecto e mijando sempre que quisesse. E assim, continuamos com a mesma cueca a caminho do quarto dia. O pénis tem de denunciar estas drogas que um dia vai matá-lo, matar-nos.