Além de estético… é inquietante?

A necessidade de uma arte nacional de intervenção

Dia 12, quinta-feira, um total de dezassete peças de técnicas diversificadas, entre acrílico sobre tela, colagem, resina e poxy sobre madeira, é exibido na sala de exposições do Centro Cultural Português em Luanda. O artista é Guilherme Mampuya. Estávamos em Maio e a exposição, em que o artista não receou explorar seu estilo, predominado pelo uso das cores, era em homenagem a Africa. Nesse mergulho de cores, uma peça apresenta um oposto relativo. Esta é, em boa medida, a preto e branco, deixando, entre as jovens-mulheres, apenas uma com a dinâmica das cores conhecidas em Mampuya.

Esta peça serve-me para dar mote aos assuntos actuais de relevância intelectual ou de intervenção, como metáfora ausente/presente na expressão dos artistas. Pois, é a arte das expressões humanas que não está fora dos assuntos críticos da vivência comum, e é o artista responsável por trabalhar nos aspectos factuais da obra e em influenciar habilmente as pessoas a reflectirem em torno das implicações sociopolíticas ou outros temas de forte intervenção.

Já se presenciou muitas obras de arte no mercado nacional em que a representação estética é, de alguma maneira, agradável, mas a sua expressão não transfigura nada sobre a consciência colectiva.

Se formos a sublinhar artistas que carregam essa preocupação na arte nacional, acabaríamos num número reduzido em que se verificaria que os mais predominantes produzem e expõem os seus trabalhos no estrangeiro. Muitos desses trazendo questionamentos duma interpretação global da situação social, económica, politica, e ficamos com poucos para questões mais próximas do conviver do angolano.

Numa luta de afirmação da mulher africana contra todos estereótipos e influências do ocidente, a peça de Mampuya, a que chamo aqui, poderia nos recordar da ideia de que a afirmação da mulher passa, no lugar de seguir um evolucionismo (preto e branco) ocidental, em “retroceder” ao puramente africano (das tranças aos adornos) – estávamos nós a debater entre as mulheres se o crescente uso do penteado afro era resultante da actual crise ou havia no colectivo feminino um acordar.

Em todos os casos, é mais o artista que se faz como tal internamente a quem se coloca a questão da intervenção metafórica, pois vive em sua constância os mínimos problemas que se generalizam. “Que se crie um novo momento político”, assim como afirmou o presidente da república em declarações do seu aniversário. Ou o que nos serviu para modificar o momento social do período colonial já não nos serve para mudar o actual?