Desde já, recusa-se o diálogo doutrinário por se afastar em grande medida da indagação. Pretende-se o discurso da perspectiva filosófica, seu impacto. Por exemplo, Diladileny: “reflectem, analisem e estudem”.
Abordar antroponímia kwanhama fora dos meandros da estigmatização. Mas, sim, aferir a cosmovisão sociolinguística kwanhama, sem descorar a similaridade das culturas bantas. A referida similaridade não costura arbitrariedade do signo linguístico, isto é, os nomes significam conforme o perfil linguístico de cada povo. Por exemplo, Matondo é um antropónimo, mas que, na esteira antroponímica kwanhama, sofre uma transfiguração semântica. Enquadra-se nas expressões que ferem a sensibilidade sociolinguística da cultura kwanhama. A antroponímia, por se constituir como um dos muitos desígnios cultural e identitário, é importante que o princípio sociológico de que nenhuma cultura é superior a outra sirva de vanguarda multi-antroponímica. Assim sendo, no desmembrar dos conceitos, antroponímia é parte integrante da onomástica. A mesma estuda os nomes próprios. Quanto aos topónimos, isto é, nomes de lugares, felizmente, diga-se que, na província do Kunene, ainda não há uma postura transversal. Só para ilustrar: rua rei Weyulu; rua rei Mandume e rua rainha Nekoto. Em Luanda há uma despersonalização toponímica.
Antroponímia na dialéctica kwanhama é também um diálogo com os ancestrais, valoração histórica. E num paralelismo antagónico, parte-se da dedução de que se julga civilizado o nome António, e o Venokanya não. Dito de outro modo, tem-se desenvolvido a ideia míope que cria assimetrias na atribuição dos nomes. Na esteira kwanhama, por ser o caso do diálogo, o legado antroponímico tem sido de geração a geração. Por outra, a questão da antroponímia kwanhama deve ser tratada sem os óculos da utopia, uma vez que, até certo ponto, concorre para exclusão tribal. Quer-se com isto dizer, que as pessoas para serem aceites no mosaico social kwanhama têm de ter um nome que se identifique com a sua antroponímia. Assim, estar-se-ia a evitar rotulagem de munbwela. No sentido de repto, o princípio da reciprocidade antroponímica deve ater-se no cumprimento da solidariedade. Assiste-se de forma genérica, uma rotura entre a escrita tradicional e a imposta pelo poder institucional neocolonialista. Fala-se, concretamente, da mudança do k para o vulgo c de cão que não é de Diogo. Aproveita-se transcrever o pensamento do escritor Jorge Macedo (2010, p. 10): “É com rosto próprio que os angolanos se devem firmar no diálogo das culturas e não como imitadores acéfalos”. Em sentido contrário, como já foi dito, antroponímia kwanhama incita o tribalismo antroponímico quando determinada pessoa é aceite por ter nome nativo. Por outro lado, notar-se-á que há faísca de início de um processo de afogamento em que o distanciamento ao nível da pronúncia incide a outro nome e significado. Por exemplo, Ndamenapshi para Ndamenaposi. Quanto à semântica antroponímica, a queda ou alteração de morfemas no interior da palavra altera, substancialmente, o sentido do nome. Recorre-se ao seguinte exemplo: Ndemutapo que, na tradução semântica, significa “expulsei-os”. Se for pronunciado ou escrito Ndeutapo, passará a significar “ chotei-o”. No primeiro, atitude manifestada pelo emissor e a acção de expulsar, para além de estar no plural, conota as pessoas. Já no segundo, está no singular e conota os animais. Estar-se-á diante do fenómeno dualista entre o analfabetismo funcional e antroponímico aquando do não discernimento antroponímico. Compreende-se oportuno que se comece abandonar a consagração de mediocridade antroponímica, referidamente as questões da junção antroponímica. Parte-se o nome do pai e da mãe (pai + mãe =?).
Ora bem, antroponímia kwanhama caracteriza-se também por ontologia da vitalidade, segundo o qual, para o bantu, em particular para o povo Ambo, kwanhama, o ser transcende, não morre. Neste processo transcendental, assiste-se, a prior, a transcendência antroponímica — os nomes são atribuídos para a continuidade da árvore genealógica. E Posteriori, a fisionomia antroponímica, a coabitação existencial entre as características comportamentais que transcendem do original e incidem na pessoa a quem é atribuída o nome, vulgo “chará”. O valor tradicional do nome, na antroponímia kwanhama, entende-se aqui como uma demonstração de crença. Por exemplo, acredita-se que, quando uma parturiente que esteja com dificuldades em dar à luz, os familiares procedem a um ritual em que são evocados os nomes de antepassados. Concretamente, do clã a que pertence o pai do feto ou da parturiente. Por exemplo, tomámos conhecimento de que, recentemente, no município do Kwanhama, bairro kafitu I, uma gestante em trabalho de parto teve que ser submetida ao referido ritual para que desse à luz, uma vez que se encontrava há três dias no hospital geral do Kunene.
Antroponímia kwanhama reveste-se de vários modelos de actuação. Isto é, a sua catalogação filosófica é conforme o recém-nascido vem ao mundo. Envolve os dados sobre as circunstâncias do nascimento, se chovia, se fazia mau tempo, se trovejava. Coloca-se também diante de questões, como o período de nascimento: Angula, “rapaz nascido de manhã”; Nangula, “rapariga nascida na manhã”; Namtenha, “rapariga nascida de tarde”; Amtenha, “rapaz nascido de tarde”. Se for nascido no caminho, lhe é atribuído o nome de “Djeimondila”. Estende-se ao “hidimondila”. O primeiro significa “Saiam do caminho”. E o segundo, “ Não saiu do caminho”. A tradução semântica na antroponímia kwanhama reveste-se de uma postura filosófica banta. Se se parte da filosofia socio-histórica, alguns nomes são atribuídos para repudiar o adultério. Exemplo, Avesovangue, “Todos são meus”; Mwualegua, “Estão envergonhados”. Estende-se até a filosofia religiosa Ndamenaposhi: “geminei da terra, do pó viemos e do pó voltaremos”. Quanto à humildade, temos Ndilipovanu, “nenhum ser vive só”. Notar-se-á uma certa superstição na antroponímia kwanhama, relactivamente às mães que perdem os seus filhos de forma momentânea e constante. É-lhes atribuída um nome “pejorativo”, Nakakalepo — “que permaneça este” —, que visa afugentar o monstro da morte na óptica da sociolinguística kwanhama. Por exemplo, numa família kwanhama que reside em Luanda, no bairro de Viana, há uma mãe que chama o seu filho de “lixo”. Embora seja um povo dedicado à pastoriça e a criação de gado, assister-se-á um contra-senso aquando da atribuição do nome Hilifavali, “eu já não pasto, agora vou estudar”. Logo, denota a importância dos estudos em função da dinâmica social.
Por toda comunicação ser infinita, no sentido de que, primeiro, não se aborda tudo, segundo, não se traz um conteúdo unânime. Não se termina, mas fica-se por aqui, reconhecendo-se que muito ficou por ser escrito, como também se pretende, caso vier a ser necessário, deixar (publicando) uma errata relactivamente à grafia dos nomes da antroponímia kwanhama.
Bibliografia
Macedo, J. (2010). A Dimensão Africana da Cultura Angolana. Luanda: INIC