Ao mais-velho do NAMORO, Viriato da Cruz

Tropecei num poema de sua autoria, Namoro, e sobressaltou-se-me a ideia de tecer algumas palavras sobre o assunto, algumas coisas que me redemoinham a cachimónia há bué de tempo.

Permita-me dizer que me enamorei com o Namoro antes ainda de me soltarem os primeiros pelos debaixo do queixo. Mas, já mesmo nessa altura, prometi a mim mesmo que nunca sofreria o que o Benjamim sofreu, para ganhar um simples beijo e se dar por satisfeito. É esse o motivo, dentre tantos, que me leva a escrever essa missiva.

Dentre as tantas coisas que sempre me azucrinaram o juízo sobre o referido poema, sobre algumas vou aqui descrever e prefiro começar precisamente do seu final. O que aconteceu para a Moça, em referência, ter aceitado o pé de dança que levou ao beijo? Terá sido a Rumba? Imagino que naquela altura devia ser impossível ouvir “aquela” Rumba sem ceder a um pé de dança. Pode ter sido isso.

O supracitado, agora também acontece. Há sempre “aquela” kizomba que, quando toca, só mesmo um pé-de-chumbo não consegue levantar o traseiro e perder-se na melodia balançando o que a natureza lhe deu. Por outro lado, a dança pode ter sido por comiseração, pena ou algo como prémio de consolação.

Sempre preferi acreditar que quando a Moça conta o caso do Benjamim às moças mais lindas do Bairro Operário, no Baile do Sô Januário, certamente uma delas disse-lhe para dar uma chance ao moço, neste caso, ao Benjamim. Dança só com ele e despacha o assunto!, teria dito. 

O supracitado, entretanto, ratifica a inicial inquietação: o Beijo. Por mais que muitos acreditem que pode ter sido a magia do momento (segundo algumas pessoas, o calor da dança é mágico e, por isso, coisas podem acontecer), essa magia, pensado bem, recebeu algumas tentativas para ser desenrolada ao longo do texto, com encantamentos que não tenham feito o efeito no momento certo.

Algo que, certamente, não caiu como encantamento foi o facto de Benjamim ter dado uma de maluco e pôr-se a andar barbado, sujo e descalço, feito um monangamba. O que queria ele ganhar com isso? Chamar a atenção da Moça ou das moscas? Entendo que, às vezes, na fúria da inspiração, o escritor esquece determinadas regras essenciais e deixa fluir o escrito feito rio em busca do mar, mas o mais-velho Viriato, dá bandeira ao se esquecer que quando uma mulher não quer um homem, não importa se está limpo e bem-cheiroso, ela continuará a não o querer, imagina agora a tresandar a raboteiro no auge das suas funções em pleno meio-dia. Nem ela, nem ninguém o quererá por perto. De certeza absoluta!

Ainda sobre os encantamentos, vale referir que as mulheres, não importa a formatação, gostam de ofertas. Para algumas, se a referida oferta for jóias e bijutarias é quase como conquistar a chave para abrir certas portas onde elas encafuam alguns dos seus segredos. Este é um dos feitiços que sempre serão actuais. No entanto, lembrando ao mais-velho que mulher é um ser de natureza complicada, ao elaborar o texto devia se lembrar que os encantamentos que funcionam com algumas podem não funcionar com outras.

No Namoro, quando o Benjamim tenta aplicar técnicas de conquistas opositoras, de uma vez só, mostra que pouco sabe sobre o universo feminino. Compras e ofertas de coisas, seguidas de afago de mãos e falas de amor, apenas fazem assentar a expressão «se melhorar, estraga!». E o Benjamim estragou. 

O mais-velho Viriato e eu podemos não ser do mesmo tempo, mas vamos concordar que Avós Chicas, para enganar aos outros, é coisa que não falta em qualquer época. São pessoas que vendem amanheceres púrpuras e poções paradisíacas, mas não passam de puras charlatãs. Aliás, algures no texto o mais-velho acaba concordando comigo, quando afirma que o feitiço não pegou.

Embora não tenha sido revelado, o Benjamim foi, definitivamente, enganado! Ninguém me conseguirá provar o contrário. Vejamos. Como não haveria de ser enganado, se acreditou que a Zefa do Sete faria chegar o pedido de namoro, em forma de recado, rogando à Santas? Por acaso, não pensou que a Zefa do Sete poderia também gostar dele e, por isso, não o ajudaria, ou pior, jamais o entregaria de mão beijada a outra?

Por fim, onde tudo começa, um dos mais valiosos encantamentos de conquista, a carta. Desde os tempos seculares a carta sempre teve efeitos mágicos. E as de amor, como disse um certo poeta, começam sem saber o que se dizer e acabam sem saber o que se disse. Mas quando vai retocada de caligrafia majestosa até compete em importância com o que lá está escrito.

Com o referido acima, penso que ao invés de toda daquela lengalenga poética, de falar do sorriso, da pele, dos seios, dos dentes, enfim…, se o Benjamim tivesse sido directo, como foi no cartão tipografado, mas escrevendo com o seu próprio punho, o impacto teria sido melhor e o SIM imediato.

Ao pedir à um amigo para tipografar, esqueceu-se que a emoção tipografada, tal como a beleza poetizada, não substitui o encanto da sinceridade escrita em qualquer português, desde que seja belíssima a grafia. O beijo, no final, derivou do encantamento da letra bonita no papel perfumado. Apenas levou o tempo que tinha que levar, para surtir efeito. Nada mais!

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Atentamente,
Um Viciado em Leitura