Arte é educação

A história da humanidade é bastante ilustrativa quanto à relação de enamoramento entre a arte e educação. As paredes decoradas pelas pinturas rupestres são motivos de especulação científica que advogam ideias, segundo as quais, aquele tipo de arte guardava instruções relacionadas à caça, às normas dos rituais de fertilidade e expressão de conceito, valores, crenças, entre outras coisas que adornavam o quotidiano do homem da pré-história.

O folclore de todas as culturas também é um celeiro de cantigas, estórias, provérbios, canções, danças que ilustram o cariz imemorável da tendência do homem de passar ensinamentos por meio das artes.

No entanto, a teorização desse tal contributo teve uma data no calendário da história da humanidade. Trata-se de mais ou menos cinco séculos antes da era comum em que Platão, filósofo grego, pensou o posicionamento ideal do relacionamento das artes com a educação. Segundo este autor, as artes deviam possuir um carácter moralizador no sentido de estimular os cidadão a inspirarem-se a elevar suas almas para o mundo inteligível. Ou seja, era das artes a missão de inspirar os homens a superar o mundo material, o mundo dos sentidos.

Todavia, essa mesma distinção do mundo inteligível (das ideias) e o mundo sensível (o mundo material) fez com que muitas manifestações artísticas fossem relegadas a uma periferia. Principalmente aquelas manifestações artísticas que representavam as coisas, como caso das artes plásticas e da poesia. O argumento do autor era que, sendo o mundo inteligível o mundo real, e o mundo sensível a cópia do mundo inteligível, as artes representativas (mimese) eram cópias da cópia. Portanto, de certa forma, inferiorizadas.

Essa visão foi redimida por outro pensador de orientação mais monista, Aristóteles. Esse também pensava que a arte devia ser moralizadora mas, contrariando seu antigo mestre, Platão, não para atingir um mundo somente inteligível, mas para melhor adaptação à cidade, a polis.

Daí em diante, foi um desenrolar dessas ideias até chegar ao advento do cristianismo, que mais tarde culminou com a exploração europeia do globo terrestre. A evangelização do planeta tomou de assalto a agenda dos maiores impérios da época, bem como a intenção política da conquista de novas fronteiras.

Assim, o carácter educativo da arte passou a ser o de elevar os valores da ortodoxia cristã que eram o de temeridade ao sacrifício de Cristo.

O Renascimento, período que veio logo a posterior, dissocia-se um pouco da perspectiva de uma relação muito óbvia entre as artes e a educação, privilegiando a estética. No entanto, a arte ainda assim serviu para ilustrar a ideia do antropocentrismo que vinha se opor ao teocentrismo da era medieval.

Nesse contexto, as esculturas e as pinturas que mais se destacaram eram as que enfatizavam esse ideal.

A modernidade e pós-modernidade não produziram padrões homogéneos relacionados à relação da arte e a educação.

Os contextos sociais e culturais de um mundo globalizado produziram vários movimentos, e cada um destes foi pintando a textura da relação da educação e arte à sua medida.

Dentre esses movimentos, pode se destacar os seguintes:

O Movimento Naturalista que consistia na visão estética de representar as coisas no seu ambiente e aspecto natural. Seu carácter pedagógico assentava-se na ideia de apresentar nulidade do homem perante as forças da natureza. Ideias que foram engrossadas com a Teoria da Evolução das Espécies de Darwin

O Movimento Expressionista que vem dar ênfase ao sujeito em detrimento do objecto como no caso do naturalismo. Ou seja, ao invés da representação dos objectos na natureza, passou a ser privilegiado o olhar pessoal do artista.

Desses dois movimentos, surgiram outros que alternavam a prioridade ora no objecto, como caso do realismo, ora no sujeito, como no caso do surrealismo.

Contextualização Africana

Apesar da multiplicidade das culturas africanas, pode-se aferir que o aspecto educativo a partir de valores místicos é bastante evidente. Figuras como o Kuku, vulgo Pensador, e a máscara Muana Po carregam, além da simbologia mística, um sentido moral orientador de respeito à vida natural. Há linhas teóricas que defendem que a natureza oval do Pensador é uma referência ao estado de integração do homem com a natureza. Tal integração permitiria o alcance do reino dos ancestrais, permitindo uma interacção mística com a realidade.

Artes Urbanas

As artes urbanas vêm num contexto contracultural onde artistas reivindicavam uma voz num panorama de metrópoles despersonalizadas. Assim, paredes de cores pálidas deram origem a verdadeiros museus a céu aberto.

As consequências imediatas foram a integração e participação dos cidadãos na estética da cidade, apropriando-se de toda uma linguagem urbana. O sentimento de pertença decorrente de uma cidade cuja construção da imagem é democrática.

Eu suma, independentemente do tempo e do espaço, a arte sempre teve um lugar preponderante na construção da subjectividade de todos os povos de todas as culturas.