As centelhas de manifestações culturais e suas representações no Cancioneiro Popular Angolano

Por Cancioneiro, compreende-se a colecção de canções e outras poesias. Neste caso, joga um papel imprescindível a esteira do mosaico cultural angolano que, estoalhado nos quatro quadrantes e limites colaterais da geografia nacional faz Angola uníssona.

Qual faisca brilhante, o momento de Live no Kubico reperesentam eternos instantes duma inspiração que os nossos artistas às centalhas, a partir das telas da televisão comunicam para Angola e o mundo a personalidade conjunta do povo e a alma colectiva, ou espiritualidade do angolano.  

Em, “a suavidade, o folcror, a poesia, o ritmo e a filosofia no cancioneiro popular angolano”, postulamos que, o homem é necessariamente um ser de fortes paixões e motivações que procura exteriorizar em todo o percurso da sua vida. Já o homem africano tem a música e a dança apuradas nos sentidos. Estas acompanaham-no em todo o percurso de sua vida e, marca as principais etapas do ser Bantu, em cerimónias ou rituais. Ao nascer, na atribuição do nome, em cerimónias como rituais de iniciação masculina e feminina, julgamos a circuncisão e a fase adulta da mulher subscrita na primeira menstruação, o casamento, em momentos de tristeza, doença, óbitos. Nas quais canta-se e dança-se para celebrar alegrias, motivar-se ante a eminência da aflição tempos de perigos e glórias.

É ponto assente referir que, a música é a representação de mundividência de um povo, um espaço e uma circunstância, situação patente na vocalidade e letras de um artista e sua representação.

Eis a luz do dia, o génio de um criador, e recriador da cultura, falamos de, Ndaka Yo Wiñi. Na verdade, Ndaka Yo Wiñi, é certamente, ‘a voz do povo’. Esse povo que o bem representa na sua forma de viver e fazer reviver e sentira a cultura angolana. Pelo que – O homem angolano em particula e africano-bantu no geral, é um ser eminentemente cantor e dançante e, ao cantar e dançar, espanta os seus males, interage com o mundo dos espíritos e comunica com sua ancestralidade. Este princípio foi patente na luta anti-colonial, na África pré-colonial, costumes transportados para as américas e resto do mundo pelos construtores da civilização negra no além, ou seja, afro-descedentes, com a raiz da capoeira e o samba no Brasil, e uma particularidade ao Jazz, como nossa matriz!

Parafraseando Bussulo DoLivro, com Ndaka Yo Wiñi – ‘(…) O Afro Jazz no país ganha uma nova estrela no seio das suas constelações. Uma figura que se produz no palco mediante um conteúdo original e de raízes autênticas. Ndaka Yo Wiñi como cidadão se configura num reprodutor da sabedoria significativa das comunidades africanas; e se faz espelho modelar do culto dos antepassados e da ética da vida tradicional, quando se impõe no palco, com o seu Mbunje nas mãos, a pequena cabaça, partilhando instantaneamente com o microfone. É um artista com alma de Griote e contator de um humanismo Bantu.

O liricismo incorporado nas músicas (A kulum vendamba, Lunguki, Lombolola, Ovamba, Tchove Tchove e Akatanga) modelam a vida das sociedade tradicionais para concepção de um estado moderno, onde o clã, a exogamia, o totemismo, a tribo e demais expressões de vida comunitária acicatam o valor das nossas origens cantadas no palco, para uma geração que se perde na confluência da velocidade global. Acresce a este manancial os ensinamentos lidos nas músicas (Tchembanjma, Suku Nzambi, Ombembwa, Ocisungi Kucongo e Ndikalikenda) como um manual espiritual que liga a nossa vida à mãe natureza, resumindo a reflexão de Cheik Anta Diop “a consciência histórica dos negros da Áfrika nascerá com o conhecimento (consciente) de todos aspectos culturais regionais”, citado na obra de Theophilo Obenga, p.9

Assim estamos perante um homem assumido, e que se encarrega de transportar todos in sights e simbolismo cultural do país até hoje desconhecido por milhares de angolanos, dando força às palavras e significado aos sonhos, até dos mais pequenos répteis em tempo de seca e chuva na aldeia abandonada ou entusiasmada de alegria. É a força do Afro Jazz, e as centelhas de manifestações culturais das nossas representações.  (…)’

Depois de apreciar a performance de Ndaka yo Wiñi em show da Zimbo (noite de Sábado, 08 de Agosto), banha-me a ansiedade de rever as Gingas do Maculussu em Live no Kubico (domingo 09 de Agosto), numa chancela da TPA e a Platina Line. Surpreso, indago-me da performance em palco. Como é possível um grupo musical que já não cantava, há anos, brilhar mais que muitos que ainda se encontram no activo?’

Mbanza Luanda, Mwenho, Lwachimo, Kizomba, Panguila, Lengueno e outros números remetem-nos à poeticidade da música das Gingas cuja métrica e rítmo nos elevam para além de nós mesmos, numa emoção que conjugou-se oportuno ao instante em que a professora – Rosa Roque – a matriaraca e projectista do agrupamento Ginga do Maculusso, aparece emocionada qual reminiscência duma trajectória grata de tudo e todos (Lito Graça, Banda Movimento, Luísa Rogério, …, muitos e mais (…), TPA e Platina Line) e, acevera que, é imperioso reccuperar a música angolana de raiz, que se assume com ousadia um momento nacional. Angola pára aos domingos ao reencontro de si mesma, ‘não só do pão vive o homem, mas o homem alimenta-se de cultura’.

Julga-se afirmativo apregoar que ‘a terra conhece a alma dos homens, os seus problemas e as suas ansiedades’. Não é de estranhar que, as montanhas e os rios do país dialogavam com um angolano que em terras distantes terá confessado não compreender o linguajar dos rios e montanhas do lugar em que se encontrava, mas que as do seu país, nosso afinal, dialogavam com ele – “Os rios e as montanhas do meu país dialogam comigo (Samakuva citando Savimbi in elogio fúnebre, Lopitanga-Andulo-Bié-Angola, 01.6.2019)” Todavia, pressupõe o ‘genius loci – o espírito do lugar (Christian Norberg-Schulz)’, pelo que se pode afirmar como cultura!

De cultura não é tudo que se pode abordar. Porém, o que se verifica ultimante é o esplendor de toda uma verdade incubada no genótipo ou mundividência do angolano e africano. Pois, ‘a tradição africana é um verdadeiro culto da vida.’

A interpretaçao que se nos proposemos, remete-nos à etno-filosofia, consubistanciada no estudo ou análise das‘instituições, os costumes, as crenças, as lendas, os contos, e os mitos, e em procurar identificar a ligação que assegure a sua coesão, a sua estrutura de conjunto. Esta ligaçao não seria outra cousa, senão a filosofia negro-africana na sua especificidade (NGOENHA,2014).

Nem a queda aparatosa de Patrícia Faria, impedio-as de brilhar e fazer brilhar as Gingas do Maculussu que, nos proporcionaram uma tarde de domingo, não obstante cinzenta e fria, mas aquecida pelo vigor e suavidade das meninas-jovens-senhoras do Maculusso.

As músicas Kalandula, Panguila, Rotura, Mangonha, Filhas de Áfrico. Fuba dya mona ndengue – com a mpwita, dikanza, reco-reco. A Mizangala, traz conselhos à juventude para que levante e faça algo de útil e não  nocivas,  para o bem de todos. Em Dikanza canta-se a exaltação da mulher, em especial a Maria zinha que na graça do casamento fez-se uma senhora de respeito. Orienta-se às mulheres na escolha acertada e equilibrada dos maridos – Xiyami (minha ou nossa terra), um canto à nossa terra, Angola, de uma alma branca e coração grande, que a todos recebe, coração de mãe. Não obstante as suas inúmeras makas. A necessidade de encontrar sábias saidas ou soluções das intrigas porque passamos e a petição da intervenção divina por Nzambi nosso socorro..

Indelével foi lembrar, relembrar, mexer e remexer… Com quem?…Com as Gingas do Maculusso, gratidão aos contribuintes. Certamente – “As gatas da professora Rosa Roque cresceram em circunstâncias semelhantes com as Girls Bound “Melomanias” onde figuravam Margareth do Rasário Yola Araújo e outras beldades cujo tempo confortou noutras circunstâncias da vida.

Debaixo do conflito que assolava o país, e distante das chamas das redes sociais de outrora, poucos cantavam, e eram dignos de destaque no showBiz angolano, e o crivo era impecável sempre que se tratasse do gênero, em causa. Eram as únicas Girls Bounds que animavam a zona costeira do país, o interior era desconhecido, mas Malanje sempre foi o cartaz de memória e homenagem de suas músicas.

O regionalismo na música das Gingas é um acto espiritual e pedagógico, cuja justificação remete-nos na revalorização da história inédita do nosso turismo impactadas pelas assimetrias locais, porém, sempre foi Luanda, a Mbanza do brilho destas senhoras, que em palco gingam tal como adolescentes eufóricas do Makulusu numa tarde de Domingo. O testemunho foi passado, com prazer e um senso vernáculo do lazer em nossas casas. Mas contudo, o ritmo é nacional‼

O conjunto de seu repertório musical é uma História compreensível dos hábitos e costumes reais de Malanje à Ilha de Luanda. Mas é o HIT “Fuba” extensivamente remixada em todo Palops que ressalta a Magestade e o inequívoco legado do melhor grupo feminino dos Palop dos anos 90, acresce a qualidade vocal e poética que as destaca com legitimidade para o cancioneiro angolano.

Já nos havíamos questionado para quando as vozes do Kwanza Sul? Ao nos referir que – ‘ (…) Com Bonga, Yuri da Cunha e Paulo Flores. Congratulámo-nos por Angola e sua diversidade cultural. Para quando o Proletário e vozes do Kwanza-Sul?! Falando sério quer-se muito ver, ouvir e rever cantar Samangwana, Teta Lágrimas cantando Ele e o mano Landu também, Waldemar Bastos e distintas excelências! (…)’ – O ENSAIO anterior descreve a Kissama e ‘Baló Januário’ – ‘(…) Uma pertença do nosso património cultural, o que suscita a curiosidade de uma Kissama (Muxima) cuja posição faz rotação, ora Bengo, ora Luanda e porque não Kwanza Sul se está a Sul do rio Kwanza? Baló estenderia um abraço ou kwata à Mam-Prole (Proletário). Até Kamabatela (K. Norte) canta BJ, uma das vozes que canta Angola por dentro (as Angolas profundas),(…).’

Parece que a Kyanda ouve o nosso desejo e hoje ao lado das vozes do Kwanza Sul muito esperadas, temos Bessa Texeira a bridar-nos com mestria.

Na nostalgia de  ‘rever, ouvir a cantar Samangwana, Teta Lágrimas cantando Ele e o mano Landu, também, Waldemar Bastos e distintas excelências!’ pensamos que Waldemar Bastos já nos não poderá abrilhantar fisicamente – caiu sobre nós o pano negro a testemunhar que o artista foi abraçado aos nove de agosto do corrente ano pelo laço do mau tempo. Incrivel filho do Zaire e da mãe pátria angolana, um dos raros criativos, artista e compositor do nosso tempo. Tocador de vários instrumentos,voz peculiar, um dos mais titulado ou condecorado no interior e exterior do país.

Com uma vasta discografia: Estamos juntos (1983); Angola minha namorada (1989); Pitanga madura (1992); Pretaluz (1997); Renascence (2004); Love is Blindness (2008): Clássic of my soul. Acrescenta-se-lhe inúmeras premeaçoes fruto do seu inconfundível e laborioso trabalho talentoso: Diplomado em 2012 como Membro fundador da União dos artistas e compositor; em 1999 premeado pela World Music considerando pelo jornal New York Time no mesmo ano o disco de sua autoria ‘Black Light’ como uma das melhores obras da época.

Em sua crónica sobre as raizes musicais de Waldemar Bastos e a liberdade espiritual da sua sinfonia, o Escritor e Jornalista, Bussulo DoLivro considera que, ‘ouvir a musicalidade de W.B é permitir que a vida trace uma nova linha de destino emocional para si. As músicas, “Minha Senhora e Lalipoó Lubango”, por exemplo, causam lágrimas e podem renascer sentimento cuja carga de impacto obrigam a ser uma nova pessoa, tal como uma viagem obrigatória às terras da reconciliação com o seu próprio inimigo num dia de chuva. Portanto, W.B carrega em suas sonoridades a herança e o património sagrado, que cada indivíduo recebe de seus antepassados para ser seu alimento, a razão profunda da sua existência, como sublinha Raúl de Asúa Altuna na sua obra, Cultura Tradicional Bantu,p.17.’

Em entrevista concedida à TVZimbo, considerou que, ‘perdoar é um acto de nobreza e dou graças a Deus por estar aqui. Até hoje. Em 2018 foi a primeira vez que cantei em liberdade em Angola’ – W.B chorou durante a entrevista concedida para a Zimbo naquele ano, por razões que não adiantou precisar. O autor de “Xê menino não fala política” foi tão transversal quanto cosmopolita ao ser caracterizado como afro-luso-atlântico, e transparecer um lirismo cujas raízes são lidas, ouvidas e percebidas pelo mundo, que o admira ao ponto de ter os palcos de Londres. EUA  e outros pontos sonantes da musicalidade almática livres. É um artista que viveu no palco e expôs a grandiosidade da cultura afriana.

A sua partida deixa o mundo mais órfão e a arte nua. Gratidão pelo que legou à humanidade. Bem-haja, até sempre grande alma, um grito de Lalipo – Waldemar Bastos (…)!

Mal nos enchiamos de oxigénio para acompanhar as Vozes do Kwanza Sul (Mam Prole e Kumbi Lixya) e o kota Bessa Texeira, qual dias negros, amarga-nos o humor como um balde de água fria, calam-se as vozes; assiste-se ao recolhimento esforçado de lendas, sóis que dormem antes do anoitecer e, desenham-se caminhos da eternidade – parte à outra dimensão – Carlos Burety!  – [°°°]  … “Porque foste embora assim sem nada dizer, sem tempo sequer para um beijo, como suportar agora tanta tristeza. Como acalmar está ansiedade”.(°°°) A Canção Nostalgia de um dos maiores ícones e inovadores do Semba em Angola. Carlos Burity  está na lista dos poemas mais bem cantados e musicados na lusofonia. É uma letra que desafia a inspiração de qualquer Prêmio Nobel da literatura, tão magestosa e impactante que merecia ser o Hino de perdão e consolo de qualquer pátria mal construída ou em decadência cultural. Calou-se infelizmente, e nem uma homenagem mereceu se não o desafio de musicar a limitação natural de si perante as coisas na dúvida dos aplausos.

Paxi yami, Onjala Yeya, Ilha de Luanda, Tia Joaquina, Malalanza entre outras canções constrõe Carlos Burity enquanto revolucionário do seu contexto, apreciador e interventivo incansável, um cantor de emancipação das localidades, quando faz referência poética aos melhores espaços para viver e fazer a vida “Nas suas canções possuía um roteiro turístico de Angola”. (°°°) Carregou a língua Umbundo e Kimbundo para unir os povos, longe de todas vaidades. Foi um homem sério e exímio compositor.

A industrial cultural de um país é a continuidade da sua história, e o estado que se limita a promover seus artistas em circunstâncias oportunistas terá sempre uma história narrada por terceiros e malograda para sua própria destruição – A  Indústria cultural é a sobrevivência legitima do artista e não aposentação e esquecimento. O Estado angolano deve parar e recomeçar o país. Precisa-se de uma indústria cultural. – Que  indústria musical é essa ⁉ (Bussulo Dolivro:2020)

 Na mesma esteira de Justino Handanga e Sabino Henda, Bessa Texeira canta, revela-se e causa nostalgia de rever Jacinto Tchipa, Flay, Fedy e o Kota Samy actuarem. Afusão Huambo e Kwanza Sul aquece Angola em tarde fria de Domingo. Polombotão, ficamos os dois, ekandu lipi, okwokwela, memória entre os números apresentados por B.T,res salta se a bem merecida homenagem a Cisika Artes, Beto de Almeida, Zé Viola e António Viñiñi.

Poletário, Kumbi Lixya e Bessa Texeira  representam a história de Angola cantada. Os artistas conseguem nos transmitir um saber aprofundado sobre a nossa cultura, cantada por músicos de estima personalidade e capacidade de conservação, com os quais navega-se no folclor regional desta imensa Angola.

Numa centena de músicos Bessa Teixeira assume-se como um dos responsáveis transmissores e conservadores dos nossos ritos de vivência, como o de iniciação, amiúde em suas composições, como sublinha o advogado Sicato Direito em reacção a qualidade musical daquele astro da música. [No centro e sul de Angola, os jovens eram levados para “evamba” submetidos a ritual de circuncisão. Quem não fosse “kevamba” não era visto como macho, na sua acepção tradicional, porque para além de não conhecer o código linguístico dos otchinganji era desprezado pelas mulheres]. Ser desrespeitado pelas mulheres é um acto de extrema inferioridade e sinônimo de incapacidade para dirigir e gerir a herança familiar em África, nesta perspectiva Bessa Texeira expõe as diretrizes patriarcal de uma tradição milenar no continente em que a posição masculina é uma prioridade para defesa da comunidade.

Com Proletário a testa e o agrupamento de Jovens Kumbi Lixya, órfãos do vocalista principal, Kaiza, de feliz memória ecoaram das gargantas o Ngoya que cantou e encantou Angola e o mundo as especificidade impares do KSul, quer da dispersão dos municípios. quer linguístico (Kimbundu, Umbundu, Suela e Ngoya).

Essa multiculturalidade dá o ar da sua graça e gera nostalgia – Ayaya ayaya ngongo ééé ‘Maladolo – Madó wanguilolokie’ uma cassete de outros níveis fez abertura da festa e depois de marcar a presença do distinto cantor angolano na área com Madó, Mam Prole rebenta a Kimbombeya, muito profundo, com ritmo vocalidade e sabedoria popular. Bem correspondido pelo agrupamento juvenil Kumbi Lixy que tira da cartola o Mwasepeya, um Clássico do K.Sul que faz viajar noutras altitudes do espírito. Mam Prole não resiste a grata surpresa e junta-se aos Putos. Na  verdade, o número é perene e faz cair lágrimas de alegrias e riscos no chão em gente de outra idade, uma reminiscência inexplicável no tempo e no espaço.

Kikwitena, uma lição de prudência e equilibrio, sobretudo aos jovens saber mensurar as forças que se possui antes de embarcar para uma peleja ou projecto, de maneiras a evitar dessabores – Nguela Mucandumba é uma música de alto gabarito, cujo ritmo perde-se na mensagem, agradável de se ouvir e fantastico na dança (…).Tweleko (fomos ou tivemos lá, presentes), merecida e distanta homenagem a Kaiza, o líder fundador do Grupo Kumby Lixya, com o Baló Januário e Mam Prole. ‘ouvimos a notícia ou o recado do óbito de Kaiza, e  lá estivemos, marcando a solidariedade e o recolhimento do pranto em tempos de luto’.

As músicas “Okasipi de Bessa, Tweleko de Kumbi Lixya e a  Scania 111 de Proletário foram das várias tentativas que motivaram a audição destes transmissores de nossa cultura. Cantores cheios de energias, com uma afluência vernacular da língua africana, souberam demonstrar, que ainda nada está perdido,  Neste regionalismo ou ciclos culturais tal como Chiek Anta Diop sublinhou, citado por Theophilo Obenga, na obra Métodos de concepções históricas de Chiek Anta Diop, p.11 “não passam de aspectos ou perspectivas diferentes de uma só e única cultura”. Portanto, viva Angola.

 Demostra-se a este nível, que a Cultura está viva e presente, e há que se trabalhar para que influências exógenas não descaracterizem-na, porque –  “A cultura angolana é africana e sobretudo angolana, e desenvolver a cultura não significa submete-la a outra. Temos, por isso,  de admitir que a aculturação resultante dos contacto cultural com os demais povos não devem resultar em perda de personalidade do angolano no contexto dos seus valores antropológicos materiais e espirituais  – Por outro lado, e na sua dimensão mais profunda, a palavta universal deve entender-se sempre como uma categoria conceitual e não como um modelo cultural que todos os povos devam abraçar – Ao acontecer ir-se-ia despersonalizar as nações, retirando-lhes alma própria, rosto inconfundível, criativida e originalida (Macedo,J:2014)

Canta-se inúmeras vivências: amores, desilusões –  ‘Uns conhecem mulheres lindas e outros morte, mas há sempre gente atrevida tentando a sorte, abra o olho Julina, pois, o mundo não é sincero, da mina de ouro todo mundo quer o seu pedaço,mwangolé’ de Proletário, e  Respeita nossa Angola, nossa mãe. O  amor à terra Pátria mãe (Kumbi Lixya), esta última, mais uma vez enumerada como a preocupação de seus filhos vê-la, Angola,  organizada e próspera.

Na perspectiva de (A.P.Eduardo:2019) o autor sutenta que, ‘as nossas riquesas materiais e espirituais, o valor da vida, o ensino nos jangos, a igualdade e solidariedade, a kambangula de Angola (capoeira no Brasil), as parteiras e terapeutas tradicionais, a casa das tintas em Cabinda, o efico em Benguela, Huila e toda circunscrição centro-sul e sudoeste angolano. Pelo que, o folcror  ou as músicas folcróricas são a expressão vivas das nossas realidades, e de lazer de um povo; são danças que promovem a transmissão rítimica dos antepassados.

No interior, esse evento está a desaparecer e ninguém está preocupado  em salvar esse legado. As danças são feitas em tempos de lua cheia, em volta de uma fogueira, pois, a energia é uma utopia, isto sem falar da televisão. A prommoção e masssificação da mesma em concursos e suplementos financeiros, assim como a academia que se encarregue de estudá-la e fazê-las perene, julga-se uma medida acertiva.

Há músicos nativos que cantam e encantam, especialmente, porque o fazem em suas línguas maternas. E não existe uma comparação possível quando se ouve uma música na língua materna. O indivíduo faz uma viagem interior, uns choram e outros desmaiam. Os autôtones têm as suas próprias estrelas, que infelizmente estão a desaparecer, pois os que têm recurso aplicam-nos em outros fins e não na cultura de facto.

É hora de levantar e gritar bem alto: “Basta de aculturação” – Um  havemos de voltar impera-se – E  para voltar…Requer uma acção. Chegou a hora de voltar! Precisamos de voltar às origens e de saber quem somos e o que devemos fazer para a ajuda mútua. Se os nossos rituais morrerem, nós também morremos. Cultura é vida e nós não a podemos deixar morrer, se isto acontecer, não teremos identidade própria, seremos assimilados, sem terra e tecto. Por que – ‘a verdadeira morte de um povo é a morte do seu pensamento, morrendo este, também morre aquele, mesmo permanecendo com o coração a palpitar’(.).

REFERÊNCIA.

  1. EDUARDO, António Pascoal. Valores que não são valorizados. Colecção Mulemba. Acácia Editora. 2019.
  2. Crónicas de Bussulo DoLivro [Era uma vez Angola] #musicaangolana:www.facebook.com.
  3. MACEDO, Jorge. A Dimenção Africana da Cultura Angolana. Coleção – Estudos e Documentos N*34.INIC – Ministério da Cultura. 3*Edição, EAL – Edições de Angola.2014 
  4. JOCAND, Mozier: A Suavidade, o Folcror, a Poesia, o Ritmo e a Filosofia no Cancioneiro popular angolano – Ensaio (2020)
  5. Live no kubico.TPA e Plana Line (2020)
  6. Ndaka Yo Wiñi in SHOW DA ZIMBO.TVZIMBO (2020).
  7. MBWANGO, Reis Luís. O Sonho Diluido No Pensamento.  Executivo Center, Lda.