– A sujeição imposta à moralidade pública é o maior calvário para um homem lúcido. Mas não ser senhor das suas próprias vontades é ruína para um homem sábio. Minha amiga, não me queres dizer o que de facto de aflige, dizes-me apenas que queres fazer algo de que não te sentes capaz, que temes recriminações. Conhecendo-te como conheço, imagino que o teu dilema seja deveras delicado. Não te julgaria de forma nenhuma, se me contasses seja o que for, eu gostaria muito de saber para te poder ajudar melhor
O rapaz não lhe deu mais atenção e voltou-se para o seu ofício, com o mesmo perfeccionismo esotérico. Agora era a vez do pé esquerdo. O mesmo processo repetia-se de forma metódica, quase científica, se não houvesse também algo de místico, como uma entrega espiritual. Uns movimentos que só podiam ser dos instintos impensados que encontram a perfeição na fugacidade da intuição.
Sempre estive em ti como o teu próprio fôlego, mas só agora começas a me descobrir. Por necessidade e também por prazer. E não vieste cá parar, porque sempre estiveste aqui, mas não me vias com os olhos de ver, só agora que abres os olhos de sentir é que me manifesto a ti, em ti e através de ti.