Juntar as sílabas é dos mais difíceis trabalhos que uma criança pode ter. Saber que “Cucu” não é uma dupla ofensa, naqueloutra idade, só mesmo vendo a ilustração de um pássaro ou sob acção da Maria, a senhora das Dores. E foi assim que uma determinada geração aprendeu a ler e a interpretar os signos dos tempos ― as lições vinham todas ilustradas e, mais do que ler palavras, primeiro aprendia-se a ler os sinais Read More
Como lido algures, “a cultura constrói os códigos e as linguagens simbólicas em que radicam os sentimentos de pertença a um colectivo de base territorial.” É, no entanto, neste conceito a que nos enlaçamos para compreender como os novos espaços urbanos dão sustentabilidade à liberdade criativa para a construção de códigos e linguagens simbólicas enquanto “subterfúgio” dos sentimentos das gerações. Read More
― Não viemos buscar culpados e sim limpar as vergonhas e nos dar as mãos em paz que nos trouxe à comissão ― berrou o Dias que, qual dos Santos, presidia a plenária das sinceridades. Fingia uma lágrima no rosto queimado com o tempo. Não era uma vítima, tinha as mãos amarradas na culpa de sempremente e o rabo preso numa história do Líbano.
Num repente, a sala solta uma voz, ríspida e amofinada:
― E quem matou o Rufino? Read More
A hora H é para nós aquela hora em que tudo de bom acontece, é como a hora da verdade para o Petro de Luanda e adeptos; os adversários, por mais contundentes que sejam, evaporam e se desfazem no ar. É assim, como se nos apresentou o mês de novembro, cheio de bons ventos a soprar-nos a alma e empurrar-nos para o canto da permanência, se quisermos dizer, para o canto eterno das coisas. Embora estejamos no manto da dor, afinal, neste mesmo mês a vida permitiu que perdêssemos a substância de dois grandes homens,tradutores dum mundo incompreendido. Read More
A manhã tinha tido, até à entrada das sete horas, a cor das paixões humanas e a fala natural do vento – há sempre uma direção a seguir! Guiada pela parte em que a sombra dava vida ao metro quadrado da sala enquanto a luz do dia sem o peso do sol penetrava às persianas, apalpou o soalho com a nudez da palma dos pés, estava frio, embora o inverno fosse uma criança sem meses; no coração da sala encontrou, sobre a mesinha cristalizada onde moravam os livros selecionados há já algum tempo, uma fotografia onde se namoravam dois elefantes – as trombas, dadas uma a do outro, faziam lembrar as amarras da África de um pano qualquer, porém, sólidas como a idosa viuvez de Eugenia, a Maria. Nua, ainda, procurou tocar a profundidade daquela fotografia com os olhos Read More
Por tudo que ao longo de tudo vai se caracterizando no seio dos escritores, insisto nesta pequena dissertação, iniciando, porém,...