O estilo musical kuduro surge como um espaço privilegiado de práticas, representações, símbolos e rituais no qual os jovens buscam demarcar e manifestar sua identidade e anseios de vida. É, sobretudo, nesse estilo em que os jovens assumem um papel de protagonistas, constroem um determinado olhar sobre si mesmos e sobre o mundo que os cerca. Ser kudurista não implica ser refém de um conjunto de valores e comportamentos comuns, como se de uma “religião” se tratasse, mas constitui uma forma determinada de vivenciar as demandas de determina fase da vida. A identidade do kuduro é a oferecida pelo estilo de possibilidades de viver e expressar as pulsões, os desejos e as necessidades que caracterizam à condição juvenil.
Balilson BCC apresenta-nos uma proposta musical que deve ser valorada dentro do seu espaço e suas circunstâncias. “Bad b tá maluco” é no fundo uma reflexão sobre a miséria de nossa sociedade com sua profunda desigualdade; é o desdobramento da violência exagerada vivida nos nossos musseques e do terror sofrido pelos habitantes, pelo facto de ter que conviver com a delinquência na porta de casa e na eterna expectativa de surgir algum confronto, quando se é obrigado a esconder-se velozmente de uma rixa fabricado por grupos rivais. Bad b é clara expressão da pobreza e injustiça, como uma evidência da situação social vivida no país, daí que, antes de ser exercida qualquer visão puritana acerca dessa música, analisar o que está por traz desta manifestação, o por que da letra, e do ritmo é fundamental para a sua compreensão. Exigir outra qualidade na letra e no estilo musical kuduro, implica, antes de tudo, mudar também a realidade dos musseques e sua gente.
A arte como fuga em direção à liberdade absoluta que se conquista no âmbito do pensamento e da inspiração, retrata a liberdade sob uma perspectiva transgressiva, emocionante e reflexiva. Por estas e outras características, a arte jamais consegue ser aprisionada, refutada ou extinta. A arte reflecte, ainda, traços da ideologia e visão de mundo de cada um, ou seja, a arte, embora não esteja presa às ideologias, não escapa aos contextos em que está rodeada, inserida e vivida. (Gouveia, 2021). Portanto, o estilo de vida kuduro possibilita a que muitos jovens ampliem de forma significativa seu campo de possibilidades, abrindo espaços para sonharem com outras alternativas de vida que não aquelas, restritas, oferecidas pela sociedade. Querem ser reconhecidos, querem uma visibilidade, querem ser alguém num contexto que os torna invisíveis, ninguém na multidão. Querem ter um lugar na cidade, usufruir dela, transformando o espaço urbano em um valor de uso. Enfim, querem ser jovens e cidadãos, com direito a viver plenamente a sua juventude. Este parece ser um aspecto central nesse estilo. Os jovens reivindicam o direito à juventude.
Não se sabe como é que texto do gênero chega a atingir o estrelado do dia para à noite, há na música uma dimensão que é muito difícil de capturar em palavras, algo que só pode existir na sua imediação, mas temos de convir que a letra e o ritmo que contém Bad b perpassam realidades periféricas e constroem possibilidades de existências.
Referências bibliográficas
Arte, resistência e rebeldia (falouedisse.blog.br)
BOSI, E. (1986). Cultura de massa e cultura popular leitura de operários. Petrópoles.