O planeta terra, em particular o cosmo angolano, vive uma crise sanitária sem precedentes, causada pelo vírus SARS-CoV-2 que, drasticamente, alterou o nosso modus vivendi. Uma das características provocada pelo SARS-CoV-2 é que inúmeras literaturas estão sendo escritas agora. Publicada em Abril, contendo 14 poemas, a obra Quarenpoema, de Zola Vida, é fruto dessa atmosfera. Nossa análise recai para o aspecto conteudístico da obra em época de quarentena.
Nos últimos cinco anos, ou um pouco mais, tem-se intensificado as vozes, acompanhadas de alguns estudos, que defendem uma Língua Portuguesa angolana em detrimento da variante ou Português europeu (PE). O que trazemos nesta abordagem é mais uma contribuição para esta necessidade contínua de estudos à volta da variante angolana da Língua Portuguesa ou Português angolano (PA)
Uanhenga Xitu, como já afirmámos é, claramente, um escritor-linguista, e este pequeno conto justifica esta afirmação de uma forma muito clara, na medida que, neste conto, descreve o Português “angolano” conforme é. Se o texto literário deve ser percebido de forma simbólica, Mestre Tamoda, mais do que crítica à concepção de intelectualidade e do retrato social daquela época, aponta também para uma Língua Portuguesa que assumiu outras características resultante deste adstrato frequente com as Línguas Nacionais
José Luís Mendoça, como ficou evidente, é proprietário duma vasta obra, cujo processo de construção se dá há quase quatro décadas. Trata-se duma obra que acompanhou os diferentes momentos da Angola independente e que por vezes se viu condicionada pela conjuntura sociopolítica, podendo-se-lhe vislumbrar ainda resquícios de um pós-anti-colonialismo resultante de factos vividos ou contados, quiçá mesmo de traumas próprios da pós-colonialidade. Uma obra, portanto, que pode ser inserida em dois espaços estéticos: eduardista e pós-eduardista.
Literatura e Direito são áreas do saber que possuem próxima relação e que têm como objectivo comum a compreensão e a representação da realidade, como refere Santos (em Trindade, 2008, p. 246): “a literatura enquanto arte extrapola os limites, dado ao carácter plurissignificativo da linguagem. As várias possibilidades de significados do texto literário se processam graças a elementos estilísticos provocados de efeitos estéticos”.
Esta colectânea surge diante de uma realidade sociopolítica conturbada e, por isso, contribui de forma positiva para o aliviamento da pesada e controvérsia ideia de «ficar em casa» em confinamento ou mesmo em quarentena, proporcionando, gratuitamente, aos leitores, uma variedade de textos para serem descortinados durante um Estado de Emergência que Angola nunca experimentara; por isso, «Escritos de Quarentena» já é uma marca indelével na história da Literatura Angolana.