Balilson BCC apresenta-nos uma proposta musical que deve ser valorada dentro do seu espaço e suas circunstâncias. “Bad b tá maluco” é no fundo uma reflexão sobre a miséria de nossa sociedade com sua profunda desigualdade; é o desdobramento da violência exagerada vivida nos nossos musseques e do terror sofrido pelos habitantes, pelo facto de ter que conviver com a delinquência na porta de casa e na eterna expectativa de surgir algum confronto
Handanga leva-nos à Bíblia, fazendo-nos reflectir na narrativa de Noé. (Veja-se Génesis 6 – 9). JH faz uma analogia entre o que se passou na era de Noé com o que se viveu nos primeiros dias da pandemia: “Noa otunga ocimbaluku, ombela yo yiya. Omanu vayola yola, vanyua, vapiluka, hati/ vati Noa walinga eyui.” Ou seja, enquanto Noé construía a arca e alertava às pessoas sobre o dilúvio, as mesmas riam-se dele, comiam, bebiam e dançavam, dizendo que Noé estava maluco.
Todo e qualquer fazedor de arte constrói as suas obras a partir de uma base da realidade, embora estas sejam ficções, falando propriamente da literatura e, inclusive, da música que tem auxílio dessa, já que todo texto cantado pode ser entendido como um texto artístico-literário. Ou seja, obra nenhuma nasce do nada, por mais inventada que seja. E como certas canções chegam a, coincidentemente, falar de nossa vida ou ser apologista de uma ideia nossa como se de nós estivesse a retratar? Tudo graças àquilo que podemos chamar de memória colectiva.
A memória colectiva é constituída por informações da vida de cada cidadão de uma sociedade e de comunidades desta mesma sociedade e de opiniões sobre tudo que rodeia cada membro dessa sociedade, bastando que haja convivência entre as pessoas, a mínima que seja.
Desde a sua génese, o kuduro sempre foi música e dança. Uma dança que requer muita elasticidade por parte do bailarino. A sua dança primária era chamada de «underground», um conjunto de movimentos controlados dos braços, da cabeça e dos pés, combinando – ao lado de muita criatividade – movimentos (passos) do ndomboló, do break, do b-boy e mais alguns estilos dançantes.
Badi Orguita, a mãe de todas as kuduristas, como ela mesma se intitula, é a nova sensação do mundo artístico em Angola. Surgiu do gueto, como grande parte dos kuduristas, e vem afirmando-se no mercado nacional, com o seu “Vou te acarcar”, que já faz furor nas pistas de dança. O fenómeno despontou do “Rangu” ou Rangel, e tem 54 anos de idade.
O estilo, antes marginalizado e considerado acolhedor de marginais e drogados, é hoje um dos estilos mais conhecidos além-fronteiras, senão mesmo o mais conhecido, e que livrou muitos jovens do mundo das drogas, do roubo e da criminalidade, ou seja, deu-lhes dignidade e, comummente, uma melhor forma de estar na sociedade.