Crítica literária: para limar as arestas

Muita boa gente – letrada ou não letrada -tem pensado que a crítica literária é uma acção, actividade, que visa, somente, depreciar uma ou várias obras. A crítica literária, em verdade em verdade, é uma actividade que, mais do que depreciar uma obra, tem como objectivo fazer com que o belo em literatura seja exaltado, reconhecido. Por outra, ela tem o condão de dar luzes para a (re)construção da trama de uma obra que, por razões da inexperiência ou fraca genialidade do seu autor, acaba por não levar o(s) seu(s) leitor(es) a atingir a katarsis, a ver a mimese no seu mais alto nível. Historicamente, sabese que a crítica literária remonta de há séculos. Atestam alguns estudiosos e livros que Dionísio de Halicarnasso, nascido na Ásia Menor, em meados do século I a.C (?), terá sido o principal mentor da Crítica Literária.

A crítica vista, verdadeiramente, como a actividade de interpretação ou decodificação de obras literárias deve ser feita por pessoas adultas no mundo da leitura e que, dotadas de senso crítico, conheçam as teorias da literatura (formalismo russo, desconstrucionismo, estruturalismo, pós- estruturalismo, neo-criticismo…) ou/e a filosofia (racionalismo, materialismo…). Ora, o indivíduo tido como crítico não deve ser ditador de verdades, ou seja, achar que os seus textos interpretativos são as mais puras verdades sobre dada obra de determinado escritor, pois, a literatura, sendo um campo onde a subjectividade reina, permite múltiplas interpretações. Dessarte, ao crítico não será bom interpretar uma obra por meio da indução, pois poderá cometer o erro de banalizar (dizer silogismos falsos) uma obra por meio de pequenos aspectos onde os agentes da literatura, digo: escritores, revisores, editores, terão esquecido ou falhado durante a construção de determinada obra literária. Enfim, aconselha-se ao crítico deduzir, pautar pelo bom senso, a serenidade, no acto da crítica, interpretação e julgamento da obra literária. Assim, o crítico, para não ser visto como um “atirador de pedras” ou “invejoso das obras alheias”, deve, mais do que ser uma espécie de juiz, ser alguém que traz directrizes e sugestões para a melhoria de uma obra boa ou reconstrução de uma obra que se tenha como má. Para acrescer, a actividade do crítico não deve girar em torno e somente das novas obras dos escritores tidos como consagrados, os ditos “bons” escritores, porém, sim, em torno de toda a literatura actual e actuante, pois, para o crítico, não deve haver o conceito de bom escritor, mas, em verdade, de boas e más obras, dos novos valores e dos vates na “república das letras”.

Portanto, a Crítica Literária, interpretação de uma obra ou toda obra literária, concebe-se de uma vez por todas, deve ser feita por “pessoas de sensibilidade apurada”, não ao escritor, mas sim à obra ou ao conjunto de obras de dado escritor.

Outrossim, os escritores, sob pena de serem tidos como corruptos, devem parar de pedir aos indivíduos de sensibilidade apurada, os críticos, interpretações, críticas às suas obras. Devem, à guisa de bom senso, oferecer livros aos críticos e deixar com que os mesmos, em boa hora, façam os seus labores de interpretações, sem obrigação moral!

Tenhase em conta de que crítica não se pede!