Percebo que as pessoas engajadas na sua arte, que exploram, pesquisam e, principalmente, as que sentem… as verdadeiramente chamadas ‘artistas’, são privilegiadas. Ao estudar de forma tão orgânica, palpável e aprofundada, o artista refaz-se, especialmente o artista bailarino, que lida com o corpo, com a sensação; vejo que, quanto mais se aprofunda, essa dança amplia e apura e, sem que perceba, o contacto com as pessoas e o mundo fica aprimorado, porque foca no autoconhecimento, na consciência do corpo que se revela e liberta.
Particularmente, a observação é o primeiro passo do ensino da metodologia na qual me formei. Pode parecer uma questão óbvia para alguns, mas é de extrema importância para o trabalho da dança e para o bailarino como indivíduo: a observação de nós mesmos, vermo-nos e conhecer, conhecer o corpo que te acompanha, sentir o que ele pede e o que rejeita; a observação do outro, aprender vendo o outro corpo explorar, criar… enfim.
De acordo com o dicionário, a palavra observar pode ter o significado de olhar com atenção, examinar para estudo, vigiar-se reciprocamente, que é o que esse trabalho sugere. Não para criticar, ou limitar, mas para entender, aprender e partilhar.
Estudar e sentir a dança que se faz obriga-te a passar por vários processos – no bom sentido –, a tirar o que realmente há no interior durante as aulas. Aprende-se que cada um tem um tempo que precisa ser respeitado, que o corpo é sensível e recebe informações a todo o momento. Descobre-se um mundo de possibilidades. Então aprende-se o “eu“ em toda a sua essência, sem limitações. Aos poucos percebe-se, então, que o corpo é mais que um instrumento, é político. O corpo fala, e, quando damos atenção necessária ao que diz, percebemos que precisamos envolver-nos e que somos afectados pelo social.
Ser com toda a essência é ser também para o ambiente. É ter consciência que as nossas acções afectam o outro e vice-versa. E não é essa uma das chaves para o desenvolvimento de uma sociedade?
Mesmo que sejamos levados a pensar que não, precisamos relacionar-nos com o outro, precisamos do ambiente. É onde nos transformamos, apreciamos e compartilhamos arte. E a arte move-nos e está presente em todos os momentos das nossas vidas.
O artista comunica-se por meio de sua obra, independentemente do objectivo, ele irá gerar identificação, questionamentos ou debates. Isso movimenta, cria laços, gera novas formas de manifestação que demonstram a importância do individual e do colectivo. Então, se a vida é manifestada por meio da arte, é crucial falar-se de sustentabilidade.
Quando a arte e a sustentabilidade são aliadas, a forma que consumimos muda. Quanto mais a consciência é trabalhada e ampliada, mais nos tornamos conscientes para a vida e para as mudanças que precisam ser feitas no mundo, especialmente no país. E tudo começa do mais básico, de pequenos gestos, e esses vão conscientemente repetir-se diariamente, até quase tornarem-se hábitos cognitivos.
O consumo consciente e mais lento incentiva a produção, a economia criativa, ajuda a formar o indivíduo para uma cidadania ambiental. Passamos a doar-nos mais, a fazer mais, isso ajuda a fortalecer comunidades, laços interpessoais, garante um país mais equilibrado com menos desperdícios.
Se todos queremos e temos capacidade de criar em um ambiente seguro, então todos temos responsabilidade quanto à criação de uma realidade sustentável na cidade, no país e no planeta em que vivemos.