A pergunta sobre os sectores do Estado que merecem mais investimento no ideal de progresso de uma nação recebe sempre uma resposta: a saúde e a educação. É uma sentença praticamente unânime no panorama das sociedades modernas, uma vez que se reconhece o homem como pilar-chave do progresso, onde, e sob qual, a ideia de bem-estar permeia. Por isso, é imperativo desdobrarmos a profundeza dos conceitos de saúde e, principalmente, de educação, de modos que os nossos eventuais investimentos sejam catalisados no “objecto” concreto que estes conceitos podem ser.
Entende-se por saudável aquele indivíduo que tem as funções vitais relacionadas ao corpo físico e à psique em funcionamento equilibrado, cumprindo-se, assim, a demanda do organismo. Há, por isso, uma necessidade de se entender a saúde para além do território circunscrito aos hospitais, postos médicos e todos aparatos sociais necessários para responder as necessidades do bom funcionamento do corpo físico, chegando, portanto, a dar à psique do homem o tratamento condigno que se efectiva por meio de cenários em que o homem é convidado a reflectir sobre a sua condição de ser e os vícios nos quais está emaranhado.
A partir dali, pode-se ligar a saúde e a cultura por um raciocínio menos óbvio segundo o qual, se cultura cura a psique, e a psique saudável contribui para o bem-estar físico, então a cultura é uma das disciplinas a se ter em conta sob ponto de vista psicossomático.
Mas, mais do que a saúde, a Educação e a Cultura têm uma ligação mais fácil de ser reconhecida, se compreendermos a educação para além da escolarização.
A escolarização é apenas um dos elementos da educação que visa dar ferramentas aos cidadãos para poderem transformar a natureza e a sociedade para o bem comum. Porém, com advento das sociedades modernas que apresentam todas as bandeiras da tecnocracia segundo qual as ciências e a tecnologia são estimuladas a produzirem, quase que sem freio algum, comunidades autómatas e não autónomas quanto à necessidade de consumo. O resultado disso é a transformação do nosso planeta num aterro sanitário de obsolescências. Nesse contexto, a educação em sua totalidade é convidada a salvar a escolarização, sintonizando-a ao serviço do homem e não mais às excentricidades de seus caprichos.
Então, que parte da educação sobra, se retiramos dela a escolarização? A filosofia e as artes.
Circunscrevendo a filosofia das artes, separando-nos da história da filosofia, como disciplina independente, podemos limitar a nossa abordagem na percepção de que as artes fazem parte da educação, pois são disciplinas que ajudam o homem a aprender e apreender as suas razões ontológicas mais profundas.
Isso ocorre porque a filosofia das artes, para além de dotarem o produto artístico dum escopo estético, ajuda o homem e se orientar para a resposta do enigma de quem ele é. Pois, não convém viver automaticamente como que embriagados pelas próprias produções, é preciso procurar os porquês últimos da existência.
Por esse motivo, é que Michelangelo consegue ser desafiador até hoje, com propostas de obras como “A criação de Adão” que estava fadada a ser uma mera representatividade da narrativa teológica da criação do homem, mas que nos desafia a questionar: qual é a posição do homem perante Deus?
A depender da resposta que tiremos desse quadro, teremos uma construção ética que culminará com a nossa organização social.
Em suma, a educação em sua totalidade não serve exclusivamente como ponte do homem para produção, a educação serve para elevar o homem a si mesmo, ou seja, para elevá-lo à sua condição de ser capaz de compreender a sua pequenez e potencial grandeza.
E isso é possível quando a Educação é arte, cultura tradicional, filosofia e escolarização científica e técnica.