Kuduro: Um breve olhar

O kuduro é, sem dúvidas, o estilo mais angolano que existe. Por este motivo é que se tornou no ópio que corre nas veias de todo o povo angolano. É incrível a forma como este estilo musical toca a alma das pessoas (crianças, jovens e adultos), com um simples toque das músicas: “lhe avança”, “estou a cair com cadeira”, “estou a partir cama”, ”toque do naná“, “vou matar lá um”, ou “abri o livro”. O estilo, antes marginalizado e considerado acolhedor de marginais e drogados, é hoje um dos estilos mais conhecidos além-fronteiras, senão mesmo o mais conhecido, e que livrou muitos jovens do mundo das drogas, do roubo e da criminalidade, ou seja, deu-lhes dignidade e, comummente, uma melhor forma de estar na sociedade.

O estilo começou com a geração dos animadores (Toni Amado, Sebem, etc), passou pela geração de rimas (Os Lambas, Puto Prata, etc) e foi crescendo cada vez mais. É um estilo como um outro qualquer, pois é cantado por homens e mulheres. No estilo kuduro, tudo pode acontecer. Desde os “biffes” à forma como cantam e dançam, que é muito contagiante. Antes só havia uma forma de dançar o kuduro, era chamada de “Andegrone”, termo que mais se parece com a palavra inglesa “underground” e cujo significado é debaixo do solo ou subterrâneo. Talvez seja por este facto que, ao dançar, os bailarinos se jogam ao chão, dão “mortal” sobre os tectos, partem as cadeiras sobre o corpo e, até, chegam a mastigar cacos de garrafa.

Por não ser um estilo uniforme, surgiram várias meninas no movimento; desde a Fofandó, Noite Dia e, mais recentemente, a Badi Orguita, que, com a sua carga feminina, sem vergonha e longe de se intimidar pelo preconceito dalgumas pessoas, apareceu para “acarcar” todos os kuduristas, especialmente as meninas. E não é que ela “acarcou” mesmo!

Badi Orguita é, sem sombras de dúvidas, alguém que veio provar à sociedade que não há uma idade própria para emergir no mundo da música, em particular no do kuduro. O seu “acarque” foi tão forte que não foi preciso muito tempo para que ela se tornasse machete e destaque em todas as redes sociais (Facebook, WhatsApp, Instagram). Ela é mais uma que veio aumentar a tensão que se vive entre as kuduristas, impondo a sua posição no movimento, mesmo sendo a que se veste sem estravagância ou a que menos aparece nos principais palcos da nossa praça.

O que dizer mais sobre o kuduro, após a aparição da Badi Orguita? Bem haja a todos que lutam em prol do kuduro e da cultura angolana.