O homem é lágrima

O homem só é pela lágrima. Até antes da lágrima, tudo que existe é apenas barro solidificado, sem chama, ruindo com o movimento abrupto do tempo que come absolutamente tudo que existe neste esplendoroso e sempre imprevisível universo. É pelo olhos que se vê a alma, e pela lágrima que se sente alma. A lágrima molda. A lágrima é a transformação literal e completa do homem. Sem lágrimas, não há homem. Há lágrima do menino, e há lágrima do homem. A lágrima do Homem é revolução. É ascensão para o próximo estágio de evolução. É liberdade pura. Se um Homem não chora, não é. Até ter chorado, Homem está apenas. Está no mundo apenas. A ser empurrado pelos padrões desenhados por outros homens que não foram, não são e provavelmente não chegarão a ser Homem. É pela lágrima que começa a transformação. 

A raíz do Homem é a lágrima. A água quente e salgada a queimar-lhe o rosto desavergonhadamente e a incendiar os sentimentos diversos que tem no coração. É o grito de vida. O sinal de que há um Humano aí. Seja de graça, dor, pena, medo, perda e outra coisa qualquer. Um Homem sem lágrimas é homem. Guerrear contra a lágrima é um falhanço. Um erro atroz. É evitar o crescimento. É perpetuar o fardo. Um Homem a carregar fardo que pode ser deitado fora através da lágrima é só homem. É pequeno. Penoso. O Homem só é pela lágrima. O deus nasce no Homem quando se permite que a lágrima brote. Quando não há resistência. O mundo é choro, e deus é lágrima. Água triste e alegre correndo sobre os olhos da multidão. Sensibilidade, materialização. Homenização do ser. 

Odeio homens de ferro. Homens sem vida. Homens sem lágrimas. Homens musculosos, incapazes de permitirem o crescimento da lágrima nos seus olhos. Homens que não choram. Homens que guerreiam sobre o Universo e escrevem longos discursos sobre a necessidade da não lágrima nos homens. Odeio esses garanhões estúpidos. Esses génios com teorias infundadas. Os que têm tempo para tudo, menos para lágrima. Escrevi Homem, mas desenganem-se, meus caros. Esses são homens. O Homem, com vida e alma, é lágrima.