Numa altura em que a palavra “Crise” representa em grau exponencial o estado das almas dos angolanos, uma pergunta recorrente tem sido feita: o que move os artistas neste momento de enormes dificuldades face à crise económica, sem precedentes, que o país atravessa? Para darmos respostas à questão ora levantada, precisamos entender o papel deste na sociedade em que estamos inseridos.
É papel do artista expressar-se por meio da sua arte. A primícia defendida por Hans Rookmaaker, professor de teoria da arte, história da arte filosófica e religião, no seu livro “A Arte Não Precisa de Justificativa”, é verdadeira se entendermos que a arte emerge dos diversos contextos como étnico, filosófico, social, político, religioso, etc., que o fazedor da arte vivencia. A arte, por sua vez, sustenta a forma como enxergamos a sociedade – através do que é belo ou estético –, oferecendo sentido, significado, razão e emoção à forma como nos relacionamos com a sociedade e com a natureza.
Esta mesma arte representa também a construção social de uma determinada época. Ela possibilita um diálogo profundo com quem a observa, cria situações que podem ser desafiantes para o apreciador, e, nalgumas vezes, os materiais utilizados na sua própria composição fazem-nos mergulhar no sentido reflectivo da mesma.
A olharmos para a produção artístico-cultural angolana feita nas décadas de 40, 50, 60 e 70 perceberemos, claramente, que se vivia um contexto sócio-político e cultural diferente dos dias de hoje. Questões como afirmação da soberania angolana, preservação das línguas nacionais ou inserção do angolano na sociedade de domínio colonial, sem atentar para o tom da pele, eram abordadas nas diversas formas de arte – música e literatura, principalmente.
Num artigo publicado recentemente no site Buala, Adriano Mixinge pergunta: “Na Arte Angolana Contemporânea (2006-2016), é possível falar em revolução artística?” Novos paradigmas do contexto artístico nacional são trazidos à tona pelo autor no artigo, sem deixar de olhar para o actual momento político-financeiro que o país atravessa. Na sua abordagem, o autor foca-se numa análise temporal sobre a evolução artística contemporânea em Angola, por meio de alguns nomes que têm conquistado o mundo, ainda que timidamente. Os criadores citados no seu artigo não estão à margem do valor estético que a arte deve ter e ao mesmo tempo fazem dela um vínculo para dar vazão à sua visão da sociedade.
Alguns eventos recentes de cunho artístico-cultural produzidos numa esfera de incertezas em que não faltam razões para sentir-se derrotado face às dificuldades enfrentadas por diversos cultores artísticos no nosso panorama: TEDx-Luanda que teve como tema central “Metamorfose”, Festivais de Spoken Word – evento que ganhou notoriedade nos circuitos poéticos, Festival de Poesia e Letras (Fespol); CIT – Circuito Internacional de Teatro, Exposições de artes no instituto Camões, etc., em que, apesar das enormes dificuldades, os artistas envolvidos são movidos por um sentimento incompreendido que vai além do amor à camisola. É fácil percebermos que tanto o artista, bem como a (sua) arte não estão presos a determinados contextos. Ambos são mutáveis e transversais e podem estar além do seu tempo. Adaptam-se, evoluem e buscam sempre deixar a sua marca.
Não há de facto uma resposta exacta sobre o que move um artista. Essa é uma reflexão individual, no entanto, posso aqui afirmar que um fazedor artístico é moldado pela sua arte. É nela, onde os pensamentos tomam formas múltiplas e encontram oportunidades de serem apreciados pela sociedade no seu todo.