Multifacetada, quase camaleónica, Renata Torres transmuta-se nos seus mil ofícios que, dentre os quais, destacamos o de produtora, artista plástica, actriz e performer. Ganhando cada vez mais a atenção do público, com aparições retumbantes, como foi no caso da sua participação no TEDx Luanda de 2016 e o sucesso como actriz do vídeo clipe da música do Cef com o título “queres me atrofiar”, que acabou por se tornar vice-campeã no prestigiado Top Rádio Luanda, traz-nos, agora, uma proposta que vai, muito provavelmente, consolidar o seu trabalho.
“Parto Rosa” é o título do trabalho que promete trazer à tona reflexões sobre estereótipo da feminilidade e as suas consequências funestas. Com duração de 40 min, a peça é caracterizada como um monólogo e contará com a ambientação musical da rapper/MC Girinha. Para um aprofundamento maior sobre a natureza do trabalho e sobre a vida artística da autora, a PA conversou com a mesma. Convidamos os leitores a seguir a conversa depois do perfil artístico:
Nome: Renata Torres
Pseudónimo: Natarys
Idade: 29 anos
Áreas de actuação: Produtora de conteúdos audiovisuais, performer, guionista, actriz, realizadora e apresentadora de tv.
Frases que a inspiram: Sorria sempre, confie na santa, mas conte com os imprevistos!
Redes Sociais: Renata Torres/ a_tatorresju/ natarysju
Vamos começar da génesis. Como começou no universo artístico?
Todo ser humano nasce com esta tendência, o mundo a nossa volta é que reforça ou anula isso… é como nos comunicamos, é como nos expressamos, e eu não fugi a regra, e tudo que foi acontecendo em minha vida, me trouxe até a este momento.
Quais foram as principais influências que a levaram a sair de uma “contadora de histórias” nata à profissionalização e formação nas mais variadas áreas em que actua?
Fui abençoada por encontrar pessoas na minha vida que meio que me obrigaram a superar minhas expectativas, me fizeram ganhar confiança no trajecto que propus seguir.
Onde e em que áreas se formou?
Eu fiz faculdade de Artes Visuais em Londrina, no Brasil. E ao longo do caminho, fui fazendo uma série de cursos, oficinas, workshops em diferentes áreas, mas todas dentro do mesmo segmento. Fiz teatro e tv, fiz moda, fiz styling, fiz fotografia e vídeo, fiz dança africana, técnica vocal, expressão corporal, fiz serigrafia, fiz animação, figurino, produção, escrita criativa, “contação” de estórias, direcção, enfim, fiz e continuo a fazer, porque a vida, para mim, é um contínuo aprendizado…
Descreve-nos a sua experiência no TEDx Luanda e no vídeo clipe de uma das músicas mais populares da actualidade que é o “ queres me atrofiar” de Cef.
O convite da TedX foi inesperado, e hoje vejo como sendo uma forma do Jano dar-me suporte de forma mais palpável. Ele é um dos grandes incentivadores da minha arte, apresenta-me soluções (isso faz muita diferença). E a experiência foi poderosa, porque me fez, de facto, passar para o outro nível. Quanto ao vídeo clipe, foi um trabalho divertido de se fazer. O desafio foi, e isso quase ninguém sabe, cantar a música de trás para frente e ainda acelerada. Ou seja, eu tive de cantar a música toda ao contrário e num ritmo duas vezes mais acelerada que a música original, imagina…!
Qual impacto que estes trabalhos tiveram na sua carreira?
Bem, o TedX fez-me querer transcender, arriscar ainda mais, e tirar todos os projectos do papel. O vídeo clipe deu-me a certeza de algo que, na verdade, eu já sabia, televisão é fama. Não, não fiquei “famosa”, mas é engraçado quando as pessoas vêm me perguntar se sou a moça do “mixoxo” (risos).
o medo de arriscar que paralisa muitas obras, muitos artistas… Precisamos pensar mais fora da caixa, superar nossas próprias
Agora, concentrando-nos mais ao que está por vir, fale-nos um pouco da concepção e o conceito do “Parto Rosa”.
Bem, a minha arte é como eu me expresso, logo, não poderia deixar de fora um tema que tanto me aflige. “Parto Rosa” é sobre a condição da mulher na nossa sociedade, é sobre imposições, muitas delas subtis; é sobre violência, é sobre amar e deixar ser livre… o espectáculo foi concebido de forma a criar imagens fortes e artísticas, é o jogo da fala, é o descompasso do silêncio ruidoso, é a simbologia de cada movimento, de cada objecto presente no palco… é o ser humano do sexo feminino.
Onde e quando se realizará?
Apresentação única, no dia 31 de Março, no Centro Cultural Brasil-Angola, às 18h30.
O que os leitores P&A têm de fazer para ter acesso ao evento?
Precisam comprar os ingressos (2.000Akz) antecipadamente, já que, no local, eles não serão comercializados. A aquisição pode ser feita directamente na casa dos sucos, que fica na ilha de Luanda (depois do hotel panorama) ou por depósito/transferência bancária (IBAN: AO06 0052 0000 2296 5738 1017 9), usando a referência “Parto Rosa”, e mandando, em seguida, o comprovativo por whatssap (936 452 986) ou por e-mail (mailpesdescalcos@gmail.com).
Uma vez que fez formação artística e cénica fora do país, qual é a grande diferença que nota da escola teatral e académica do Brasil em relação à angolana?
A maior diferença talvez seja a inovação (nem acho que este seja o termo mais adequado, mas não me ocorre outro no momento). O que percebo, aqui, é o medo de arriscar que paralisa muitas obras, muitos artistas… Precisamos pensar mais fora da caixa, superar nossas próprias expectativas.
Olhando um pouco para o nosso mercado teatral, qual a sua apreciação do mesmo?
Muita dificuldade técnica, os profissionais na área são raríssimos, muitas pessoas ainda acham que teatro se faz apenas com actores, porque eles é quem dão a cara à tapa, mas não poderiam estar mais enganadas. Precisamos zelar pela qualidade técnica dos espetáculos.
É cada vez mais notável o número crescente de espaços e grupos teatrais. De certeza no seu entender, essa expansão também representa mais espaços para as actrizes angolanas dentro e fora dos palcos?
Primeiro, quantidade nunca foi sinónimo de qualidade; isto pode ser apenas um sintoma do descaso das entidades competentes, mas, ainda assim, eu faço sempre questão de incentivar iniciativas próprias, porque é assim que se chega a algum lado. Mas isso não representa, necessariamente, inclusão, porque muitos desses espaços são elitistas e se você não faz parte do círculo, as barreiras para o teu desenvolvimento artístico são enormes.
Quais são os projectos subsequentes ao “Parto Rosa”?
São tantos (risos), mas uma coisa eu garanto, pretendo tornar-me mais activa e participativa na cena artística nacional.
Deixamos aqui o espaço aberto para considerações que acha relevante para partilhar com o nosso público.
Permitam-se, não tenham medo, questionem, desconstruam os padrões impostos… quão bem você se conhece? Até que ponto o que você sente, o que você diz, o que você acredita não são apenas reflexo daquilo que os “outros” disseram que assim deve ser? Questione-se, desconstrua-se!
Axé!