POETAS PU(E)TAS E PUNHETAS

Enquanto representação de palavras ou ideias por meio de sinais e enquanto qualquer sistema mnemônico usado para registrar mensagens ou fixar a memória de acontecimentos, a escrita está presente nos mais variados espaços da vida do homem. É assim que não é só pela necessidade simples de comunicar, mas pela a de encantar, libertar, fazer sentir e fazer mover, comunicando através da arte de escrever, que nos inserimos nesta tão expandida arte literária. As buscas a que me levo para aprimorar os meus tão jovens conhecimentos nesta arte, seus constituintes e os subsequentes espaços que se me abriram, fizeram-me conhecer e vou conhecendo os poetas, pu(e)tas e punhetas da minha geração. Mas poetas, pu(e)tas e punhetas por quê?

Aprendi, nesta minha pequena existência na escrita, que a leitura que também é arte “irradia actividades de compreensão e de expressão que têm, como consequência, a actividade escrita.” Os poetas conseguiram incorporar, aceitar e executar isso com afinco e com muitas vontades de explorar todos outros contornos da escrita através da leitura e não só, por isso a crítica se lhes aponta como futuros excelentes escritores apesar da «decadência literária» que lhes agride a geração cuja patente está nos segundos e horas que o relógio cumpre em nos mostrar. Já os pu(e)tas e punhetas olham para a leitura como se de mera estrada se tratasse, que poderão trilhar ou não, afinal, para eles, o “poeta nasce poeta” e não se lhe obriga a fazer da leitura, acompanhada de pesquisas concernentes e exercícios propícios, a espinha dorsal das suas almejadas carreiras literária. Contam-me os meus já bem velhos manuais que: organizar ideias, expressá-las de forma clara, espontânea e criativa em seguimento lógico, com cumprimento das normas da estrutura correcta das orações – são o objetivo essencial da escrita –, e que o hábito de leitura consegue impulsionar o desenvolvimento da linguagem escrita, pois palavras ou pequenas frases proporcionam a todos a grafia correcta, sem omissão ou acréscimos de letras. Quem pode contrariar isso ante um país onde a educação é a “inducasão” que estamos com ela?

Embora escrever seja um automatismo como ouvir, falar e ler, para todos que almejam a carreira nas artes literária e ter o rótulo de excelente bem estampado no seu pseudónimo, os meus botões dizem-me que devem manter-se fiel a uma ordem especial: ouvir, ouvir, falar, ler, ler, ler e ler mais e depois escrever e escrever mesmo, afinal, só se “aprende a escrever escrevendo”.

Sinceramente, não me trago através desta para criticar e/ou julgar, afinal, tal trabalho é da competência da crítica literária, aquela a que tenho chamado de o tribunal das obras e não dos autores. Apenas aqui e junto dos meus botões, acho que poucos de nós entendem de verdade o trabalho de um escritor e/ou um poeta dentro duma cultura qualquer; que muitos se têm esquecido que a arte da escrita tem muita, senão total dependência, da arte da leitura cujo efeito expande o poder criativo, desenvolve a capacidade de organização e da expressão clara e correcta do pensamento. Este é um facto que, quer queiramos quer não, consegue, com seus dotes, nos classificar como poetas, pu(e)tas ou punhetas.