Reza a história que, o país, Angola, era formado por reinos e cada reino tinha uma determinada língua. Com a chegada dos portugueses, em 1482, na segunda metade do século XV, houve união entre os reinos, embora de forma tímida, a fim de resistirem a ocupação europeia.
Desde a sua chegada ao reino do Congo e posteriormente a sua expansão em outros, os portugueses impuseram a sua língua, até porque a língua foi um factor de relevo para que se efectivasse a colonização.
Adriano (2015, p. 34) afirma que, “[os angolanos] resistiram de tal modo que só depois de mais de quatro séculos de luta aqueles puderam alcançar o domínio completo do País, isto é, em 1926”. Repara-se que levou um tempão para dominar o país. Nem com isso, as línguas desses reinos desapareceram. Reduziu apenas o número de falantes, em função da política linguística vigente no nosso país. Entretanto, houve a sobrevalorização da língua portuguesa e desvalorização das línguas de cada reino.
Se, por um lado, um reino pressupunha a existência de uma nação e o agrupamento desses reinos num só elenco – país –, então, pode-se afirmar que Angola é um conjunto de nações. Por outro lado, devíamos utilizar e estudar cada língua dessas nações, tal como se faz com a língua portuguesa. Infelizmente, isso não acontece por duas razões:
- A Constituição da República de Angola (CRA) no seu artigo 19 nº1 reza que a língua portuguesa é a língua oficial de Angola. Entende-se que, enquanto for oficial, deve ser usada em todos os momentos sem nenhum desprimor.
- As línguas desses reinos são denominadas de LÍNGUAS ANGOLANAS e não têm o mesmo estatuto que a língua portuguesa. São várias tentativas para as classificar e as agrupar, mas também, as tentativas de inserção na administração e no sistema de ensino.
Diante das duas razões, percebe-se que a língua portuguesa é falada a nível nacional, e pode ser mapeada sem problemas, e para as línguas angolanas (de acordo com a CRA), por mim, seria bom se usássemos o designativo LÍNGUAS NACIONAIS, que até agora são difíceis de se mapear.
Qual é o problema do mapeamento das Línguas Nacionais?
O grande problema reside na classificação de uma língua e de uma variante. Esse problema é antigo, tal como afirma a linguista alemã Huth (1994 como citada em Lusakalalu, 2005, p.9): existem em Angola cerca de 64 línguas; e Neto (2009, p.17) apresenta apenas 11 línguas.
Vejamos:
Fiote é língua ou variante de alguma língua? Ibinda é uma língua ou variante do Kiyombe? Ou Kiyombe é uma língua ou variante do Ibinda?
Para mapear as línguas nacionais, dever-se-á saber primeiro as línguas existentes em Angola de origem bantu, khoisan e vátwa. Segundo, onde são faladas e não dizer os que os livros ou textos isolados dizem, tais como:
- 1975 – Etnias e Culturas de Angola de José Redinha
- 1992 – As línguas nacionais no contexto linguístico angolano de Vatomene Kukanda
- 2002 – Angola: povos e línguas de João Fernandes e Zavoni Ntondo.
Os números 2 e 3 fazem uma cópia fiel sobre o mapa linguístico proposto por José Redinha. Aí começa a grande divergência entre o que está no papel e o que existe realmente. Como é possível um mapa linguístico de 1975 ainda vigorar? Será que não houve alteração nesse mapa?
Em nossa opinião, dever-se-á criar um grupo de estudiosos para cada munícipio do país, para ajudar na construção de um novo mapa linguístico.
Referências
Adriano, S. P. (2015). A crise normativa do português em Angola, cliticização e regência verbal: que atitude normativa para o professor e revisor? Luanda: Editora Mayamba.
Constituição da República de Angola. (2010). Luanda.
Lusakalalu, P. (2005). Línguas e Unidades Glossonímicas. Luanda: Editora Nzila.
Neto, C.G. (2009). O Perfil Linguístico e Comunicativo dos Alunos da Escola de Formação de Professores «Garcia Neto» – Luanda, Angola. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
Outras bibliografias
Chicuna, A. M. (2014). Portuguesismos nas Línguas Bantu. Para um dicionário Português – Kiyombe. Lisboa: Edições Colibri.
Kukanda, V. (1992). As línguas nacionais no contexto linguístico angolano, In Atlas da Língua Portuguesa na história e no mundo. Lisboa: Editado por A. Ferronha e outros, Imprensa Nacional Casa da Moeda.