Abrimos, deste jeito, o caminho para uma floresta de crítica literária chamada MAYOMBE. Vinde. Não tenhais medo. Asseguramos-vos, é seguro o caminho. MAYOMBE é o ressurgimento (para não dizer ressurreição) do exercício crítico dentro da esfera literária angolana, morto há décadas com o desvanecimento de um grupo restrito de críticos literários criados pela Geração de 80. Ou melhor, MAYOMBE é a vanguarda da Crítica Literária em Angola. Descortinareis aqui várias abordagens críticas no seu sentido mais puro e apurado, distinto e inovador. Nunca se viu nada igual na Instituição Literatura Angolana. Trata-se de um conjunto de artigos críticos da autoria de diversos críticos literários angolanos, que indubitavelmente se configuram como o epicentro do cenário da crítica literária produzida actualmente em Angola: alguns com uma certa estrada de mestria traçada e outros ainda em brilho estreante, porém, com impressionante habilidade.
A literatura não é uma construção ininteligível, indecifrável ou inexplicável. Ela não existe apenas para que os leitores a apreciem e sintam o seu valor artístico; existe, também, para que os leitores a compreendam. Literatura não é apenas uma questão de sensibilidade; é sobretudo uma questão de inteligibilidade, pois as construções fictícias, conotativas e metafóricas resultantes do processo de criação literária, além de merecerem respostas sensoriais ou emotivas, precisam de ser interpretadas filosofica e, portanto, racionalmente. É aqui onde a Crítica Literária começa a se fazer valer.
A Crítica Literária não é uma máquina de demolição das obras literárias e de seus autores nem de ascensão dos mesmos, como se acredita. De facto, reconhecemos que o exercício crítico tem o poder e legitimidade de desenterrar obras e autores armazenados no cemitério do esquecimento e do insucesso e dar-lhes o devido reconhecimento. Outrossim, também pode deitar por terra obras e autores que gozam de sucessos imerecidos. Porém, esse não é o objectivo essencial da Crítica Literária. O objectivo primordial e essencial da Crítica Literária é analisar, interpretar de forma racional os materiais literários. É, portanto, neste exercício interpretativo que a Crítica Literária pode desvendar determinadas fragilidades ou qualidades, revelando, deste modo, o carácter valorativo das obras literárias.
Contra a banaLizaÇÃo da crÍtica literÁria. Este é o nosso grito de guerra. Quem não reconhece o papel da Crítica Literária na literatura e quem considera prescindível a figura do crítico literário não sabe o que é nem como funciona a literatura. Toda e qualquer literatura sem Crítica Literária se revela numa literatura vulnerável, dormente, sem pernas para andar nem calibre para se fazer valer. O crítico literário, apesar de actuar em última instância no processo de comunicação literária, é o único sujeito operatório capaz de criar um discurso no qual pode congregar os demais materiais literários: obra(s), autor(es), leitor(es), tradutor(es), revisor(es), editora(s) e outros. Por essa razão, é necessário um mínimo de reverência pelo importantíssimo papel que o mesmo desempenha na esfera literária.
Não há aqui um único modelo de Crítica Literária. Há o que se pode chamar de crítica dialéctica, crítica historicista, crítica impressionista, crítica dogmática e crítica exegética. Entretanto, todas, absolutamente todas, desde as mais objectivas às mais subjectivas, são bastante importantes para a compreensão e o fortalecimento do fenómeno literário. É isso que esta revista espelha: um misto de abordagens críticas com essências, particularidades e focos diferentes e diferenciados. Em MAYOMBE, a diversidade não é divergência; é riqueza. Por isso, vinde apreciar a floresta de Crítica Literária mais rica e completa que Angola já conheceu.
Bom proveito!
Agostinho João, Editor Adjunto