Handaga é um artista que soube ler o momento e interpretar os corações feridos dos angolanos para, então, anunciar as boas novas. E como as principais vítimas do conflito armado tinham sido as populações do centro e sul do país, o artista serve-se dos seus conhecimentos da cultura desse povo e, assim, canta a paz então alcançada e pedi aos seus irmãos para regressarem às suas terras a fim de reaver os seus bens, rever os seus parentes sobreviventes do conflito e contribuiu, sobretudo, para a união e reconciliação nacionais.
É aqui onde reside a questão. Para nós, os angolanos, o erro começa ao pensar que somente o alto nível de escolaridade é capaz de proporcionar emprego, conhecimento e estabilidade aos sujeitos. Não se investe noutras formas de saber por se pensar que só se pode construir e instruir o homem, na sua plenitude, na relação aula-classe. Mas, mesmo que se forme o homem nesta relação, são necessários outros artifícios que complementem o conhecimento livresco, outros saberes que possam contribuir para a transformação da pessoa num agente interventivo na sociedade.
Com base algumas afinidades descritas pela citação anterior, para o estilo Kuduro, na sua estrutura formal, o primeiro sinal de semelhança que temos é a rima, pois, a busca de rima, no Kuduro é constante (muitas vezes, sem unidade das ideias anunciadas nos vários versos), dando-lhe, assim, o ritmo e a musicalidade que lhe são necessárias. Na tentativa da busca do ritmo, a maioria dos kuduristas opta pelo mesmo tipo de rimas, a emparelhada. A rima também justifica a construção moderna do Kuduro, porque, segundo Chatelain, na música tradicional angolana o recurso a rimas é raro. «Na poesia existem poucos sinais de rima, mas muitos de aliteração, ritmo e paralelismo». Além disso, a própria noção que alguns kuduristas têm em organizar as letras em verso e estas, por sua vez, em estrofes, como se pode ver em Bruno M., apresenta-nos uma visão de proximidade entre as duas artes. Dessarte, isto é indicativo de que há uma aproximação entre o Kuduro e a arte literária.
Numa altura em que a palavra “Crise” representa em grau exponencial o estado das almas dos angolanos, uma pergunta recorrente...