A história da humanidade é bastante ilustrativa quanto à relação de enamoramento entre a arte e educação. As paredes decoradas pelas pinturas rupestres são motivos de especulação científica que advogam ideias, segundo as quais, aquele tipo de arte guardava instruções relacionadas à caça, às normas dos rituais de fertilidade e expressão de conceito, valores, crenças, entre outras coisas que adornavam o quotidiano do homem da pré-história.
Badi Orguita, a mãe de todas as kuduristas, como ela mesma se intitula, é a nova sensação do mundo artístico em Angola. Surgiu do gueto, como grande parte dos kuduristas, e vem afirmando-se no mercado nacional, com o seu “Vou te acarcar”, que já faz furor nas pistas de dança. O fenómeno despontou do “Rangu” ou Rangel, e tem 54 anos de idade.
Handaga é um artista que soube ler o momento e interpretar os corações feridos dos angolanos para, então, anunciar as boas novas. E como as principais vítimas do conflito armado tinham sido as populações do centro e sul do país, o artista serve-se dos seus conhecimentos da cultura desse povo e, assim, canta a paz então alcançada e pedi aos seus irmãos para regressarem às suas terras a fim de reaver os seus bens, rever os seus parentes sobreviventes do conflito e contribuiu, sobretudo, para a união e reconciliação nacionais.
O cenário, “intimamente intimista”, não daria para muita gente, e, infelizmente, muita gente precisaria de uma boa terapia musical no último dia laboral da semana, excepcionalmente na quinta-feira. A parte frontal da sala que, claramente, seria manejada pela anfitriã estava composta por uma mesa na qual dava para ver um PC e mais alguns instrumentos, dois, se tanto. Havia três microfones destacados, prevendo, além de ela, mais dois acompanhantes. Mas o que se viu foi o contrário. Ou seja, Maria-Gracia Latedjou, ao contrário do que se esperava, dominou todo o cenário, sozinha, com a simplicidade de uma experimentada artista de longos anos. Além dos dois instrumentos denotáveis sobre a mesa, demo-nos conta do violino que foi o instrumento base ou principal durante o concerto, tocado com e sem arco, embora, no seu EP inaugural, “o baile dos sentidos”, o violino não tenha conhecido o arco como tradicionalmente é.
A arte, mormente a música, está a dirigir-se a um abismo do qual não se sabe como sairemos, mas de quem é a culpa, dos artistas ou do meio no qual estes estão inseridos?
O problema é um conjunto e, assim como o corpo muda sua aparência após ser lavado, a mudança do artista depende da mudança do meio e a arte o acompanha.
A música que nos são servidas pelas rádios e TV (obviamente que nem todas) mostram a arte sendo usada como um meio de angariação de valores que não se conseguiriam por outras vias; correm imediatismos nas veias que se espalham no verso de cada estrofe cantada, não propriamente um amor à Arte.
MC K, mais que esperado, tomou o palco introduzido pelo Hino Nacional, sublinhando no final a revolução que diz o Hino e, logo, retomando aos tempos de ensino primário, relembrou o que era ensinado e, inclusive, vinha estampado na contracapa dos livros: ESTUDAR É UM DEVER REVOLUCIONÁRIO. Tudo isso como uma retórica para reafirmar que o próprio sistema que ensinou a revolução, agora a teme.
Vários números foram apresentados. MC K fez um roteiro pelos seus álbuns, com as músicas mais difundidas e, uma vez mais, esqueceu-se nalguns momentos da letras das músicas tendo sido salvo pelo seu suporte vocal, onde se encontrava, também, o D.J. Pelé. A noite não terminou sem referências ao Sherokee e ao Rufino, duas vítimas do sistema que, dentre outras, turbinam a inspiração do artista.