Metamorfose pernas poéticas
meus dedos sobre prosas
anjo-orifício
poesia a se colocar a língua
A raíz do Homem é a lágrima. A água quente e salgada a queimar-lhe o rosto desavergonhadamente e a incendiar os sentimentos diversos que tem no coração. É o grito de vida. O sinal de que há um Humano aí. Seja de graça, dor, pena, medo, perda e outra coisa qualquer. Um Homem sem lágrimas é homem. Guerrear contra a lágrima é um falhanço. Um erro atroz. É evitar o crescimento. É perpetuar o fardo.
O estilo, antes marginalizado e considerado acolhedor de marginais e drogados, é hoje um dos estilos mais conhecidos além-fronteiras, senão mesmo o mais conhecido, e que livrou muitos jovens do mundo das drogas, do roubo e da criminalidade, ou seja, deu-lhes dignidade e, comummente, uma melhor forma de estar na sociedade.
Às vezes, a vida veste e reveste-se-nos de intermináveis rodeios. Para quem não viaja, há minutos ou séculos, ser-lhe-á dado o passe livre,pelas mãos, lendo A Arte de Sentir, onde o fluir de um vocabulário diverso,raro e riquíssimo em imagens, cria rios de visões mentais, dos quais, num simples percorrer de páginas, conseguimos reencontrar-nos com a mais remota civilização africana, e, por coincidência, a primeira que o mundo conheceu, o EgiptoAntigo, em reminiscência aos Faraós ou à deusa Nerfertiti, trazidos à nossa presença quer pelas areias movediças do deserto, quer pelo utópico esquecimento onde foram afunilados, e, com eles, as demais mulheres africanas (“Presidiárias da realidade”, p. 32), que se dedicam à empresa da promiscuidade, “beijando bocas”.Entretanto, as outras, a quem o sujeito poético se dedica, vivendo todo esfarelado,manso e submisso, em “charcos de palavras insípidas” se dissolvem, motivo pelo qual o mesmo se questiona: “Seria heresia pensar/ Que o amor não existe?”(p.67).
Depois da publicação do AMOR MENDIGO em 1997 e um ensaio em 2003 sobre Agostinho Neto, o libertador e homem de cultura que todos conhecemos –ou pelo menos deviamos conhecer! – , eis que o poeta «da vaca que arrasta o tempo», fazendo jus à sua (re)conhecida pena, reapareçeu, passada que foi uma década e meia de reflexão e labor oficinal com o CORPO MOLHADO DE PRAZER, livro editado pela União dos Escritores Angolanos na colecção «Guaches da Vida».
Só pela receptividade é que encarar uma obra transcenderá o acto de olhar para ela. Perceber as nuances, as...