«Ventre Negro» é uma obra prosaica em formato digital que compreende 7 narrativas que nos encaminham até à alma de um Camama agitado, engaiolado no negro ventre que ainda conserva os ritmados sons do ngoma, da marimba, da dikanza e os deslizantes passos da masemba. Estas narrativas, do ponto de vista da taxonomia literária, podem assumir-se como cronicontos na medida em que encerram um certo hibridismo que oscila entre o conto e a crónica narrativa. Trata-se de uma prosa realista muito bem conseguida com marcas do surrealismo e do realismo animista.
Recomendámos à estudante a ter cuidado com a verosimilhança ao utilizar a velha Estética da Recepção, de Rans Robert Jauss, porquanto a obra literária encerra uma dimensão psicológica que se espelha na catarse que o leitor vai tendo ao ler uma obra. Pois que poderia, no caso de ler um romance de personalidade ou intimista, confundir as suas experiências com partes ou todo um romance.
Uanhenga Xitu, como já afirmámos é, claramente, um escritor-linguista, e este pequeno conto justifica esta afirmação de uma forma muito clara, na medida que, neste conto, descreve o Português “angolano” conforme é. Se o texto literário deve ser percebido de forma simbólica, Mestre Tamoda, mais do que crítica à concepção de intelectualidade e do retrato social daquela época, aponta também para uma Língua Portuguesa que assumiu outras características resultante deste adstrato frequente com as Línguas Nacionais
Handanga leva-nos à Bíblia, fazendo-nos reflectir na narrativa de Noé. (Veja-se Génesis 6 – 9). JH faz uma analogia entre o que se passou na era de Noé com o que se viveu nos primeiros dias da pandemia: “Noa otunga ocimbaluku, ombela yo yiya. Omanu vayola yola, vanyua, vapiluka, hati/ vati Noa walinga eyui.” Ou seja, enquanto Noé construía a arca e alertava às pessoas sobre o dilúvio, as mesmas riam-se dele, comiam, bebiam e dançavam, dizendo que Noé estava maluco.
A cultura de “sócia” consiste na divisão do valor total de mercadorias em caixa. Se uma caixa de coxa de frango custar oito mil kwanzas, duas pessoas ou mais juntam partes iguais do valor total e compram a caixa, dividindo-a em partes iguais para cada pessoa ou “sócia” da “sociedade”. Como disse, as compras são normalmente trabalho de mulheres e só por isso é que esta cultura não se denomina “sócio”, nem que uma das partes da partilha ou divisão seja homem
O Grafite possibilitou uma nova percepção da arte: de baixo custo, sem cânones estéticos definidos apesar da influência dos estilos modernistas (Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo) e acessível a qualquer um com coragem para enfrentar – em muitos momentos e por essência – sua ilegalidade. Com ele, a arte foi efectivamente para a rua e interagiu com o espaço público e a dinâmica da vida urbana. (Cauquelin, 2010).