Balilson BCC apresenta-nos uma proposta musical que deve ser valorada dentro do seu espaço e suas circunstâncias. “Bad b tá maluco” é no fundo uma reflexão sobre a miséria de nossa sociedade com sua profunda desigualdade; é o desdobramento da violência exagerada vivida nos nossos musseques e do terror sofrido pelos habitantes, pelo facto de ter que conviver com a delinquência na porta de casa e na eterna expectativa de surgir algum confronto Read More
Diante da importância de autores como Luís Carlos Patraquim para a construção da poesia moçambicana e elaboração de suas frentes literárias e, também, da potência da escrita de Hirondina Joshua, dentre poetas mulheres que despontam no país após tanto tempo apenas com nomes singulares como os de Noémia de Sousa e Glória de Sant’Anna, é possível analisar como os movimentos de poesia na escrita desses poetas revelam algo além da intertextualidade – e aqui, por ordem de gerações, seria coerente o diálogo intertextual de Patraquim empreendido pela poesia de Joshua, na qual se nota uma escrita consciente e crítica. Read More
— Meritíssimo juiz, o dinheiro, o dinheiro, falando a verdade, foi destinado às eleições. Para o partido ganhar o pleito eleitoral.
A sala ficou sossegada como se alguém mostrasse a nudez. Alguns congeminavam ideias de revolta. O juiz levantou o sobrolho, encarou-o, como se dissesse: “Então porque te julgam os teus!?” Naquele instante, divaguei. Fui longe com o pensamento. Já não via no tribunal. Estava em Roma. Numas vestes castigadas pelo pega-dali-pega-daqui da multidão, estava Jesus Cristo, diante de Pôncio Pilatos. Cristo era conhecido por só querer «justiça entre os homens», neste mundo lascado pelo hedonismo; mundo de almas infiéis, onde o egoísmo, fonte de todas as misérias, faz o homem fechar-se em si, e onde o amor apodrece dando lugar a piores males como injustiças, invejas, ódio.
O mal progride com jactância de mãos com o homem enquanto o bem esmorecendo vai só. Detive-me a pensar na absurda escolha: “Cristo ou Barrabás?” Escolhas são difíceis, pensei. Mas talvez esteja enganado. Pois, para o Senhor, atrás de mim, não é bem assim. Ouvi-o murmurar: “Deixem o réu ir em liberdade!” Soou-me ordem e impaciência. Era como se de outro modo tivesse dito: “Parem com esse carnaval que os foliões têm mais que fazer”. Escolheu-se Barrabás no lugar de Cristo. Barrabás iria para casa. Cristo para o suplício. Pensei nos contornos daquela decisão. Meus olhos eclipsaram de um sentimento de nostalgia. Em meio a pergunta de Pilatos “que hei-de fazer, então, de Jesus chamado Cristo?”, pensei em todos os injustiçados. Ao primeiro murmúrio, juntou-se outros. Eram sonhores da elite enfeitados com seus fatos finos e cheirosos. Deu para reconhecer suas faces. Eram todos servidores públicos que vieram prestar solidariedade ao comparsa. Neles, reconheci a multidão eufórica: “Crucifica-o, crucifica-o, crucifica-o!” As vozes se agudizavam na sala que o juiz teve de bater o martelo. A fome, a estiagem, a malária e outros males eram silenciadas na hora do julgamento. Ninguém mais se lembra de quantos percorrem kilometros até à escola. Ninguém se lembra daqueles que nada têm porquê tudo lhes foi negado. Ninguém mais se lembra da viúva que dá até o último centavo para obter algum benefício. Porque sacrificam os pobres?, questionei-me. E não obtive qualquer resposta. Talvez porque não há, além do egoísmo sem pudor.
Como Pilatos, o meretíssimo juiz temia pelo poder. As benesses falavam alto. Por isso, o Juiz, meio comprometido, interrogava o réu com algum receio de retaliação.
— Diz-nos, como conseguiu estas riquezas?
—Honestamente, com sacrifício! Antes mesmo de qualquer função no estado! Tenho sido bom cidadão que tem a pátria como inspiração. Pago meus impostos ainda que discorde de alguns metódos de cobrança. Aliás quem ama o país não pode importar-se com isso; tenho minhas quotas em dia, no partido; como um humilde cristão, pago meus dízimos, emolumetos, ofertórios especiais e outras contribuições para se erguer o templo do Senhor; tenho sido um verdadeiro defensor das mais elementares virtudes humanas; aos meus estudantes ensino o amor à pátria e a saber interpretar as manobras do imperialismo; ensino-os que connosco a reacção não passará. Nisso é bom frisar que, também, sou um venerável pai de família e fiel esposo. A família é Deus que dá. Não concordo que os homens devam ter relações extra-conjugais. Não sou infiel a minhas escolhas. Digníssimo Juiz, não sou como certos lideres, sobretudo da oposição, que não trabalham e exigem que o estado lhes pague tudo. Eu aprendi a trabalhar desde muito cedo com meu falecido pai. Não sou vespa ou marimbondo, mas formiga. Sei trabalhar e não canto como as cigarras o fazem. Tudo que tenho foi conquistado com abnegação, suor, lágrimas e sacrifício. Meu pai ensinou-me a ser transparente. E sou de facto. Por isso, venerado Juiz, não roubei nada. Antes pelo contrário, o estado e o partido estão em dívida comigo. É tudo, obrigado! Que a justiça seja feita!
O juiz fez anotações, endereitou os óculos, espreitou no código penal, questionou os presentes:
— Que fez ele de mal?
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Com a publicação do poemário «Angola me diz ainda», em Novembro de 2017, começava em Luanda um dos projectos literários...
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