«Ventre Negro» é uma obra prosaica em formato digital que compreende 7 narrativas que nos encaminham até à alma de um Camama agitado, engaiolado no negro ventre que ainda conserva os ritmados sons do ngoma, da marimba, da dikanza e os deslizantes passos da masemba. Estas narrativas, do ponto de vista da taxonomia literária, podem assumir-se como cronicontos na medida em que encerram um certo hibridismo que oscila entre o conto e a crónica narrativa. Trata-se de uma prosa realista muito bem conseguida com marcas do surrealismo e do realismo animista. Read More
Ela nasceu na mesma rua e época que eu, no bairro dos Eucaliptos, periferia da capital do Namibe, que até antes da década de 80 do século passado era praticamente desabitado. Montes de areia desenhavam o nosso berço. O tempo passou desde a altura que a nossa terra era um autêntico areal. Hoje é um espesso lamaçal, nas raras ocasiões de chuva, e a Nguevinha é mãe de oito filhos. Uns, descalços e empoeirados, vagam pelas ruas do bairo e outros, zungueiros de saco preto, na pracinha do Kapeke. O mais velho, com menos de 16 anos, é açougueiro. Dizem que em cada amontoado de crianças que se encontre a brincar pelo bairro, há, no mínino, um que seja filho da Nguevinha. Read More
Contrariamente a esse cenário, o contacto com as nuances da vida confirma a existência de seres humanos que até as próprias progenitoras iriam preferir apertá-los entre as pernas se soubessem do feio feitio que os mesmos teriam anos depois do nascimento. São aqueles seres humanos que diante de um estudo meticuloso seriam considerados num autêntico risco ao progresso da humanidade Read More
Muitos artífices da palavra obedecem, à risca, as indicações teórico-normativas sobre a conceituação e caracterização dos géneros literários que aparecem em manuais de teoria da literatura ou em gramáticas como princípios orientadores de criação literária. Na contramão, situam-se aqueles escritores que procuram demarcar-se dessas convenções normativas e escrevem obras que, por vezes, colocam em crise o pensamento crítico – doxográfico e ideológico – que, numa teoria existencialista ao reverso, advoga a «essência» como predecessora da «existência». É neste lugar de desafios à convenção onde se situa a «República do Vírus» de António Quino. Read More
Quando veio ao mundo, ao mundo dos vivos, saíra de um sofrimento, de uma luta, no mundo monovivente, que era...