Camuflada miragem, sobre a mesa de um bar fantasiado, tipo nos anos sem tempo, há um ser que se faz Deus, Maria-Gracia Latedjou. Sua voz nasce magnética, faz crer que a ferocidade humana se encontra no útero onde, inesperadamente, as sanguíneas correntes levam à memória do futuro.
No Baile dos Sentido, a voz da mulher é um universo de contestações, é um “mistério de pó” no cimo da vida. É metamorfose plena desfilando num palco que geme. Embora muda quando se faz dia, por hora, é vedeta magistral. Lá nascem palavras que se desprendem dos ramos do medo de máscaras venezianas, tentando abraçar o vento, a transcendência das almas numa mística que só a última nota pode revelar.
Nos últimos anos, em Angola, os que detêm o poder económico e político-militar têm abusado do poder judicial. O sujeito poético, em Neto, alertou-nos: os homens negros ignorantes /que devem respeitar o homem branco / e temer o rico (2016, p. 25). Não é por acaso que João Lourenço, ciente da realidade na sua tomada de posse à presidência de Angola, em 2017, disse “que ninguém é tão poderoso ao ponto de não ser punido, e que ninguém é tão pobre ao ponto de não ser protegido”.