Às vezes, a vida veste e reveste-se-nos de intermináveis rodeios. Para quem não viaja, há minutos ou séculos, ser-lhe-á dado o passe livre,pelas mãos, lendo A Arte de Sentir, onde o fluir de um vocabulário diverso,raro e riquíssimo em imagens, cria rios de visões mentais, dos quais, num simples percorrer de páginas, conseguimos reencontrar-nos com a mais remota civilização africana, e, por coincidência, a primeira que o mundo conheceu, o EgiptoAntigo, em reminiscência aos Faraós ou à deusa Nerfertiti, trazidos à nossa presença quer pelas areias movediças do deserto, quer pelo utópico esquecimento onde foram afunilados, e, com eles, as demais mulheres africanas (“Presidiárias da realidade”, p. 32), que se dedicam à empresa da promiscuidade, “beijando bocas”.Entretanto, as outras, a quem o sujeito poético se dedica, vivendo todo esfarelado,manso e submisso, em “charcos de palavras insípidas” se dissolvem, motivo pelo qual o mesmo se questiona: “Seria heresia pensar/ Que o amor não existe?”(p.67). Read More
Gerilson Israel apresenta-nos uma composição musical que, do ponto de vista dos «Estudos Culturais», deve ser analisada dentro de um contexto específico, sob pena de se relegar à mais extrema pobreza uma obra que, como qualquer outra, possui, seguramente, alguns pontos fortes. Trata-se de uma música que reflecte o contexto actual em que o «capitalismo» converte até o que há de mais puro e sublime em mero objecto comercial, em que o apego pelas coisas se constitui como um estilo de vida. Como é visível, vivemos em estado de urgência. A pressa é uma das principais características do nosso tempo. Os cantores privilegiam composições que facilmente ficam nos ouvidos do consumidor. Tanto a música como o autor são criações sociais, construções humanas de um período cada vez mais incaracterístico em termos de valor, frutos da «cultura de massas» que procura, a todo o instante, consumidor activo. Read More