«Ventre Negro» é uma obra prosaica em formato digital que compreende 7 narrativas que nos encaminham até à alma de um Camama agitado, engaiolado no negro ventre que ainda conserva os ritmados sons do ngoma, da marimba, da dikanza e os deslizantes passos da masemba. Estas narrativas, do ponto de vista da taxonomia literária, podem assumir-se como cronicontos na medida em que encerram um certo hibridismo que oscila entre o conto e a crónica narrativa. Trata-se de uma prosa realista muito bem conseguida com marcas do surrealismo e do realismo animista.
As letras de kuduro caracterizam-se pela sua simplicidade, humor e, muitas vezes, até pelas ofensas explícitas; as letras são normalmente escritas em Língua Portuguesa, com recurso a uma ou outra palavra nas línguas nacionais ou, ainda, em inglês. Porém, é o calão, falado nos nossos musseques, que domina grande parte das letras de kuduro.
O povo angolano sempre foi caracterizado como um povo de sorriso fácil. E não sem motivos, pois não faltam manifestações culturais onde os elementos do humor são evidenciados mesmo quando as circunstâncias sociais não são tão inspiradoras.
Por exemplo, o fenómeno cultural denominado “estiga”, caracterizado como um duelo em que os intervenientes troçam-se caricaturando elementos físicos e psicológicos, parece ignorar a realidade do meio circundante dos nossos musseques onde é habitualmente palco desse evento, a menos que esta realidade sirva para promover mais risos.
Os símbolos estão em tudo que é canto – dizia meu pai. Eles povoam os bairros, cidades, becos, casas e...
Com base algumas afinidades descritas pela citação anterior, para o estilo Kuduro, na sua estrutura formal, o primeiro sinal de semelhança que temos é a rima, pois, a busca de rima, no Kuduro é constante (muitas vezes, sem unidade das ideias anunciadas nos vários versos), dando-lhe, assim, o ritmo e a musicalidade que lhe são necessárias. Na tentativa da busca do ritmo, a maioria dos kuduristas opta pelo mesmo tipo de rimas, a emparelhada. A rima também justifica a construção moderna do Kuduro, porque, segundo Chatelain, na música tradicional angolana o recurso a rimas é raro. «Na poesia existem poucos sinais de rima, mas muitos de aliteração, ritmo e paralelismo». Além disso, a própria noção que alguns kuduristas têm em organizar as letras em verso e estas, por sua vez, em estrofes, como se pode ver em Bruno M., apresenta-nos uma visão de proximidade entre as duas artes. Dessarte, isto é indicativo de que há uma aproximação entre o Kuduro e a arte literária.
O cinema por ser arte é um dado cultural. Por ser um dado cultural, o cinema é história. É por...